Com R$ 4,3 bilhões, cidade foi a quarta que mais recebeu recursos para novos empreendimentos no Estado de São Paulo
Estudo do Observatório PUC-Campinas destacou os investimentos em infraestrutura feitos no município em diversas áreas, como captação, tratamento e distribuição de água; desde 2021, a Sanasa investiu quase R$ 1 bilhão em obras do Plano Campinas 2030, que, entre outras iniciativas, prevê a construção de 20 novos reservatórios (Alessandro Torres)
Campinas captou em 2023 aproximadamente R$ 4,3 bilhões em investimentos, o maior volume em dez anos. O montante coloca a cidade entre as quatro paulistas que mais receberam recursos para novos empreendimentos. A revelação consta no estudo "O perfil dos investimentos confirmados no município de Campinas – 2023" realizado pelo economista Cristiano Monteiro da Silva, pesquisador do Observatório PUC-Campinas, com base em pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). O montante é quase o dobro do maior valor registrado anteriormente, que foi de R$ 2,4 bilhões em 2014 e mostra uma forte recuperação na captação de investimentos privados e públicos, que estava em queda há cinco anos.
O valor anunciado no ano passado é 31,5% maior do que a soma de toda a captação ocorrida entre 2018 e 2022, que foi de R$ 3,27 bilhões. O montante mais baixo na última década foi registrado em 2022, quando ficou em R$ 53,6 milhões. O ranking das cidades que tiveram recursos para novos empreendimentos no ano passado apontado pela Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo (Piesp), da Seade, colocou Campinas em quarto lugar, mas o economista ressaltou a qualidade do perfil local pela concentração em serviços (76,1%) e infraestrutura (23,46%), preparando o município para o futuro.
“Os investimentos em Campinas não ficaram concentrados em uma única empresa, se diluíram em várias e se destacaram por terem sido em desenvolvimentos de conhecimento, tecnologia, e estarem associados à sustentabilidade, transformação digital, indústria 4.0”, explicou Cristiano Monteiro, que também é professor da Faculdade de Economia da PUC-Campinas.
DESTINAÇÃO
Além disso, 99% dos recursos anunciados para a economia local são destinados à implantação de novos empreendimentos. A liderança estadual em investimentos é de Paulínia, com R$ 16 bilhões, dos quais R$ 15 bilhões estão sendo destinados para a implantação de um novo data center em hiperescala de uma multinacional norte-americana. A previsão é que a unidade seja inaugurada no segundo semestre deste ano. Em seguida aparece São Paulo com R$ 6,4 bilhões. Mais da metade desse valor irá para um complexo imobiliário multiuso no bairro da Mooca. A terceira colocação é de Lençóis Paulistas, R$ 6 bilhões, com 83,33% sendo para a instalação de uma nova fábrica de papel e nova unidade de produção de clorato de sódio e peróxido de hidrogênio, componentes químicos utilizados no processo produtivo de celulose.
Em Campinas, o maior investimento foi de R$ 1,8 bilhão no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), complexo científico instalado no distrito de Barão Geraldo. Desse total, R$ 1 bilhão corresponde à construção do Orion, primeiro laboratório de máxima contenção biológica (NB4) da América Latina e o único do mundo conectado a um complexo científico de fonte de luz síncrotron. Ele permitirá a realização de pesquisas com patógenos que podem causar doenças graves e com alto grau de transmissibilidade e letalidade das classes 3 e 4, como o ebola e aquelas causadas por vírus da família coronaviridae, como o SARS-CoV-2, causador da pandemia de covid-19.
“Paralelamente às obras do Projeto Orion, o CNPEM conduzirá um programa nacional de treinamento e capacitação em infraestruturas de alta e máxima contenção biológica, voltado à formação de recursos humanos em competências ainda pouco desenvolvidas no Brasil e nos demais países da América Latina”, explicou o diretor-geral do centro nacional, José Roque Silva. Os outros R$ 800 milhões são para expansão do acelerador Sirius, com novas linhas de luz síncrotron, para analisar a estrutura de diferentes materiais. Ele é o maior e mais avançado projeto da ciência brasileira e está entre as três únicas fontes de luz síncrotron de última geração em operação no mundo.
INFRAESTRUTURA
O estudo do Observatório PUC-Campinas destacou ainda os investimentos em infraestrutura feitos no município em "eletricidade, gás e outras utilidades, além de transporte terrestre, captação, tratamento e distribuição de água", afirmou o economista Cristiano Monteiro. A Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A, (Sanasa) investiu quase R$ 1 bilhão desde 2021 no Plano Campinas 2030, que busca ampliar a segurança hídrica e envolve a troca de 450 quilômetros de redes de água para redução de perdas, interligação do sistema de distribuição para dar maior possibilidade de realocações e construção de 20 novos reservatórios.
Os tanques começaram a ser construídos no segundo semestre de 2023 e estão sendo entregues este ano. A empresa está investindo R$ 117,6 milhões nessas obras. Elas aumentarão o volume de reservação em 54 milhões de litros, passando de 142 milhões para 196 milhões de litros reservados. Somados aos 73 já existentes, terão condições de atender toda a população da cidade durante 20 horas, caso seja necessário interromper a captação de água nos rios que abastecem a cidade, de acordo com a Sanasa.
Para o presidente da empresa, Manuelito Magalhães Junior, o conjunto de obras do Plano Campinas 2030 é “fundamental para dar segurança hídrica para a população e para que a gente possa enfrentar qualquer percalço no abastecimento de água potável na cidade”. De acordo com ele, “a questão da segurança hídrica é fundamental não apenas no dia a dia, mas também para o crescimento de Campinas.”
Já a CPFL Paulista investiu R$ 1 bilhão no sistema elétrico nos últimos três anos na Região Metropolitana de Campinas (RMC). A empresa faz parte da CPFL Energia, que recentemente anunciou R$ 28,4 bilhões em sua área de concessão até 2028, onde residem cerca de 5 milhões de pessoas. A maior parte dos recursos será direcionada ao segmento de distribuição, que deverá receber cerca de R$ 23,425 bilhões nos próximos anos. A transmissão de energia terá o aporte de R$ 3,499 bilhões, enquanto a geração deve ficar com pouco mais de R$ 1 bilhão e a comercialização com R$ 410 milhões.
O BRT (ônibus de trânsito rápido, na sigla em inglês) é a principal obra de transporte coletivo da história de Campinas e deverá ser concluído no segundo semestre deste ano. O lote está sendo executado na Avenida Ruy Rodrigues, na região do Terminal Ouro Verde. Neste sistema, os ônibus circulam em faixas exclusivas, separadas do trânsito comum, para ganhar segurança e eficiência. Ele será formado por três corredores totalizando 36,6 quilômetros de extensão, dos quais 22 km estão em operação no distrito de Campo Grande e na linha perimetral.
Em 2021, a prefeitura também lançou o Programa de Ativação Econômica e Social (PAES), que resultou em R$ 1 bilhão em investimentos públicos, em várias áreas, no prazo de dois anos. O PAES gerou 15 mil empregos, segundo balanço da Administração. É um conjunto de 101 obras em infraestrutura, saúde, trânsito e educação. De acordo com o secretário municipal de Infraestrutura, Carlos José Barreiro, de 85% a 90% dos empreendimentos serão concluídas até o final deste ano. Entre as obras em andamento estão a ampliação do pronto-socorro do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, implantação de ciclovias, revitalização do Mercado Municipal (Mercadão) e do Centro de Convivência Cultural, além da urbanização de parques e praças.
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