Campinas bate recorde de temperatura para novembro

Com os termômetros se aproximando dos 40 ºC, o mês de novembro de 2023 vem registrando as temperaturas diárias mais elevadas para o período desde 1989 em Campinas. No último domingo, a população enfrentou um calor intenso, atingindo 37,4 ºC, a temperatura mais alta já registrada para um mês de novembro em mais de três décadas. Esses dados são fornecidos pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri). De acordo com o órgão, existe a possibilidade de que, até quinta-feira (16), as temperaturas registradas ultrapassem os 39 ºC, o que requer atenção e cuidados adicionais da população diante das condições climáticas extremas.

O índice do último final de semana foi capturado pelo sensor antigo do Cepagri. Vale notar que, com o sensor mais recente instalado há menos de um mês, a temperatura aferida no domingo foi ainda maior, atingindo 37,8 ˚C. No entanto, o órgão continua a utilizar os dados do sensor antigo para permitir comparações com registros de anos anteriores. A situação atual levou o Instituto Nacional de Meteorologia a elevar o nível de alerta para a onda de calor na Região Metropolitana de Campinas (RMC) de "Perigo" para "Grande Perigo". Este alerta permanecerá em vigor até o final do dia 17 (sextafeira).

Para o dia de hoje, a previsão indica temperaturas variando entre 24 ºC e 38 ºC. Já amanhã, estima-se uma faixa térmica entre 22 ºC e 37 ºC, com a umidade relativa do ar também apresentando níveis preocupantes, ficando abaixo de 20% em Campinas. O meteorologista Bruno Kabke Bainy, do Cepagri, explica que esse fenômeno é resultado de uma onda de calor que se formou e fortaleceu devido a um sistema de bloqueio atmosférico no centroleste do país. Esse bloqueio impede que frentes frias provenientes do sul do Brasil prossigam para outras regiões do país, mantendo assim uma massa de ar quente que se intensifica à medida que persiste.

Na série histórica do Cepagri, a maior temperatura registrada para o mês foi de 36,8ºC nos dias 9 e 10 de novembro de 1997. Em anos mais recentes, destaca-se a marca de 36,2 ºC registrada nos dias 9 e 10 de novembro de 2020. Em 10 de novembro de 1997, os termômetros atingiram a marca de 36,8ºC, mantendo-se elevados nos dias subsequentes, variando entre 36,4ºC e 36,2ºC nos dias 11 e 12 do mesmo ano, em Campinas. Outros anos que se destacaram por altas temperaturas no mês de novembro incluem 2020, 2012 e 2003 (ver quadro nesta página). No ano de 2019, em 5 de novembro, registrou-se uma temperatura de 35,7ºC.

Marilza de Fátima Rufino oferece seus serviços de cozinheira e passadeira de roupas, mas tem recusado alguns trabalhos em decorrência do calor extremo. Marilza cozinha na casa do cliente, que a contrata para a preparação da "mistura" consumida pela família para o período de uma semana até 15 dias.

Para cozinhar as massas, carnes, lasanhas, almôndegas e panquecas, além de outros pratos, Marilza precisa potencializar o uso do fogão, manejando as quatro bocas e o forno, todos funcionando ao mesmo tempo. O calor enfrentado por ela tem sido "o maior" desde que começou a atuar na sua profissão, há mais de dez anos.

Ela trabalha das 8 às 16h todos os dias, mas tem evitado aceitar trabalhos em apartamentos pequenos e locais com cozinhas sem ventilação. Para conseguir cozinhar e passar roupas neste calor, Marilza diz que precisa ligar o ventilador, abrir as janelas, fazer paradas com mais frequência durante o expediente, beber muita água, além de precisar trocar de roupa duas vezes ao dia em razão do suor. "Uso avental, touca e luva para cozinhar. Tenho evitado fazer assados, que exigem o forno ligado por muito tempo."

Quando os pratos assados estão no cardápio da família que a contrata, Marilza os faz por último, pois esquenta muito o ambiente. Ela liga o forno ao final do seu expediente e deixa para a contratante desligar.

IDOSOS E CRIANÇAS

Segundo o especialista em medicina esportiva, e clínico paliativista da Sociedade Médica de Campinas (SMCC), Marco Michelucci, os familiares devem estar atentos aos idosos que, em razão da idade, são propensos à desidratação e perdem a capacidade de sentir sede. Em temperaturas extremas como as dessa semana, a população idosa desidrata ainda mais, alerta Michelucci, "e isso é muito perigoso".

As consequências da desidratação são a depressão neurológica (quando os idosos ficam confusos ou letárgicos e a família pensa se tratar do agravamento do Alzheimer), infecções urinárias e, para os acamados, se intensificam as infecções de vias aéreas.

Além disso, Michelucci explica que a regulação térmica da população idosa é deficitária, impedindo que percebam a elevação térmica do corpo (hipertermia).

As crianças também desidratam rapidamente no calor , uma vez que têm o metabolismo acelerado. Os lactentes também sofrem com a hipertermia, podendo ocorrer convulsões. Para minimizar os riscos, as crianças em idade escolar e a população adulta não devem praticar atividades esportivas no período entre 10h e 16h.

ALERTA DA DEFESA CIVIL

A Defesa Civil de Campinas divulgou um alerta de altas temperaturas no município. Nesta semana o calor seguirá intenso com baixa umidade relativa do ar. Os cuidados devem ser mantidos principalmente para as pessoas mais vulneráveis, como crianças e idosos.

O coordenador regional e diretor da Defesa Civil de Campinas, Sidnei Furtado, chama a atenção para os riscos de insolação. "É importante que as pessoas se protejam do sol, mantenham-se hidratadas e procurem locais arejados. O município entra em Estado de Atenção quando a temperatura fica acima de 34˚C e em Estado de Alerta quando ultrapassa 37 ˚C, ", ressalta.

Como principais cuidados que devem ser tomados pela população, a Defesa Civil recomenda a hidratação regular e abundante (exceto bebidas alcoólicas, que causam desidratação), a umidificação de ambiente, não se expor à radiação solar entre 10h e 16h (o sol agrava a condição de calor), evitar exercícios físicos ou atividades laboriosas nas horas mais quentes e prestar atenção em sintomas de mal-estar. Além disso, é importante procurar locais frescos, ventilados (preferencialmente com algum sistema de refrigeração) e à sombra. Esses cuidados deverão ser mantidos até que a situação se reverta.

POPULAÇÃO NA RUA

A Secretaria de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, em parceria com a Sanasa, realiza a Operação Altas Temperaturas, voltada à população em situação de rua. A ação consiste na intensificação da abordagem, por parte do SOS Rua, da oferta de albergamento e de água a esse público. As equipes itinerantes do SOS Rua também orientam sobre medidas para enfrentar o tempo, como evitar o sol e procurar lugares cobertos.

A Operação Altas Temperaturas - adotada desde o dia 10 de novembro pelo motivo da onda de calor na cidade - consiste na intensificação da abordagem, por parte do SOS Rua, da oferta de albergamento e de água a esse público.

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