Campinas está ajudando a aumentar a visibilidade internacional da ciência feita no País e os primeiros resultados dos investimentos apareceram na edição de ontem da revista científica britânica Nature, uma das mais conceituadas do mundo. A revista traça o novo mapa da ciência e cita o Brasil entre os países que estão virando líderes em colaborações regionais a ponto de ameaçar os pesos pesados como EUA e Europa. Segundo a Nature, até então algumas superpotências eram dominantes, como França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos.
Hoje, mais nações — China, Índia, Cingapura, Brasil e Coreia do Sul — estão tomando seu lugar na mesa de alto nível de pesquisa. As fronteiras nacionais estão sendo superadas por redes de colaboradores e pesquisadores que têm muito mais mobilidade do que no passado. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), responsável por cerca de 15% das pesquisas feitas no Brasil, por exemplo, é parte de uma rede de colaboração que envolve 30 países. O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que reúne quatro laboratórios nacionais, tem números significativos de produção: no ano passado foram publicados 124 artigos de seus pesquisadores e associados em periódicos científicos indexados. Na área de cooperação científica esse centro se relaciona com 13 instituições de seis países; o projeto de construção do Sírius, a nova fonte brasileira de luz síncrotron, envolve colaboração de Suécia, EUA, Suíça e Shangai.
O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) tem 457 projetos de pesquisa em andamento, dos quais quatro ocorrem em parcerias com universidades de outros países (Alemanha, Espanha, EUA, China) e sete com outras instituições estrangeiras (França, Itália, EUA e México). Há ainda redes estabelecidas em polos como o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD), o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) e Instituto Biológico (IB).
O diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz, disse ontem que Campinas tem uma participação importante na produção científica brasileira, já que a Unicamp é a segunda maior fonte de artigos científicos no Brasil — a primeira é a Universidade de São Paulo (USP). “Além disso, o impacto dos artigos de autores da Unicamp é maior do que a média nacional, recebendo boa visibilidade mundial. E, somando-se a isso é preciso lembrar que em Campinas há outras importantes organizações de pesquisa que têm muito boa visibilidade mundial, como o Instituto Agronômico e o Laboratório de Luz Síncrotron”, afirmou Cruz, que está em Toronto, no Canadá, participando do Fapesp Week 2012, simpósio realizado em conjunto com a Universidade de Toronto, que debate temas de pesquisa avançada na fronteira do conhecimento em diversas áreas.
Na Unicamp, os cursos de mestrado e doutorado representam 10% da pós-graduação do Brasil e a cada ano são formados cerca de 2 mil mestres e doutores. A universidade é responsável por cerca de 15% das pesquisas produzidas no País e mantém cooperação internacional com mais de 30 países. Para essa visibilidade, afirmou Brito Cruz, contribui também o fato de a Unicamp formar 800 doutores por ano e muitos destes estagiam em instituições competitivas no Exterior. E depois voltam ao Brasil, muitos para Campinas, trazendo as redes de contatos que estabeleceram.
“O fato de a Unicamp ter uma política baseada em mérito na seleção de estudantes e professores é determinante para a visibilidade internacional e agora a universidade está inovando, oferecendo concursos para seleção de professores nos quais os candidatos estrangeiros podem se apresentar em inglês”, disse.
Para o Brasil ter mais visibilidade, afirmou, ainda é preciso mais trabalho para desenvolver colaborações internacionais e na busca de pós-doutores e estudantes de outros países. Atualmente, 15% das bolsas de pós-doutorado da Fapesp apoiam a vinda de pesquisadores de outros países. O principal desafio para a Unicamp, avaliou, está em buscar mais oportunidades de trabalhar com co-autores internacionais e em posição de liderança na pesquisa.
“Não há dúvida de que a produção científica de Campinas embalou a posição do Brasil no cenário mundial. Não é à toa que somos chamados de o vale do silício”, afirmou o especialista em política em ciência e tecnologia, Marcos Luccaretti. Segundo ele, a presença de instituições de nível superior, como a Unicamp, a PUC, o Mackenzie, a Facamp e a Unip, fazem do município um dos melhores e mais reconhecidos polos acadêmicos do Brasil e de toda a América Latina.
Unicamp tem cooperação com 30 países
A Unicamp mantém cooperação internacional com mais de 30 países e vem desenvolvendo esforços para a internacionalização das atividades de pesquisa, com estratégias para ampliar a exposição da instituição no Exterior — por exemplo, intensificando a participação da universidade em eventos internacionais de educação superior. Isso resultou em um incremento de convênios e intercâmbios estudantis além daqueles nos quais a universidade tem tradição, como os programas com Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai e com redes formadas por universidades europeias.
A produção da universidade também é significativa e só perde para a USP. No ano passado, os pesquisadores da Unicamp publicaram 4.473 artigos, sendo a maioria deles na área de ciências biomédicas, ano em que, segundo o anuário da universidade, estavam em andamento 1.056 linhas de pesquisa, 5.382 projetos com financiamento e em que 2.195 teses foram defendidas. Somando livros publicados, artigos, capítulos em livros e trabalhos completos publicados em anais de congressos, a produção chega a 23.466. Junto a isso, somam-se 74 pedidos de patentes e registros concedidos.
O mais recente exemplo do reconhecimento internacional da posição da Unicamp como uma universidade de ponta foi seu ingresso, em março, como o 19o. membro — e o primeiro na América Latina — da Worldwide Universities Network (WUN), uma das mais renomadas e seletas redes de universidades do mundo. Das 18 universidades que compõem a WUN atualmente, cinco estão no Reino Unido e quatro, nos Estados Unidos. Há ainda duas na Austrália, duas na China e uma na África do Sul, no Canadá, em Hong Kong, na Noruega e na Nova Zelândia.
O Brasil é o terceiro país emergente com um representante na rede. Como membro da WUN, a Unicamp terá direito a participar dos “Global Challenges”, programas que reúnem dezenas de grupos de pesquisa interdisciplinar vinculados à rede em torno de assuntos de interesse mundial, como mudança climática e segurança alimentar; saúde pública; reforma do ensino superior e da pesquisa, entre outros.