Vereadores participam da sessão desta quarta-feira, na qual foi rejeitado o pedido de instalação de processo de cassação do vereador Paulo Bufalo (Alessandro Torres)
Os vereadores da Câmara Municipal de Campinas rejeitaram na quarta-feira (10) a abertura de uma Comissão Processante (CP) contra o vereador Paulo Bufalo (PSOL), que foi alvo do requerimento após apoiar a Ocupação de Mulheres Maria Lúcia Petit Vive. A reunião que decidiu pela rejeição do documento foi bastante tumultuada, com militantes dos dois lados acompanhando aos gritos, vaias e aplausos as falas favoráveis e contrárias à abertura da CP contra Bufalo. Ao menos em duas oportunidades a Guarda Municipal precisou intervir para evitar que a situação saísse do controle.
O pedido de uma CP foi feito pelo proprietário do imóvel ocupado, Álvaro César Iglesias, que solicitava à Câmara uma apuração da conduta de Bufalo neste caso. O filho do proprietário, o empresário Álvaro César de Camargo Andrade, e o vereador, discutiram na quarta-feira da semana passada após se encontrarem em frente ao imóvel enquanto Bufalo estava na companhia de integrantes da ocupação.
Ao todo, 25 parlamentares participaram da votação. Foram 15 parlamentares votando contra a instauração da Comissão Processante (CP), 8 a favor e duas abstenções. Os seis vereadores da bancada de esquerda votaram contra, sendo eles o próprio Paulo Bufalo, Mariana Conti (PSOL), Cecílio Santos, Guida Calixto e Paolla Miguel (PT), e Gustavo Petta (PCdoB). Os demais vereadores contrários ao requerimento foram Arnaldo Salvetti (MDB), Carlinhos Camelô (PSB), Carmo Luiz (Podemos), Eduardo Magoga (Podemos), Jair da Farmácia (Solidariedade), Marcelo da Farmácia (Avante), Paulo Gaspar (NOVO), Rubens Gás (PSB) e Zé Carlos (PSB).
Os 8 votos favoráveis vieram de Debora Palermo (Podemos), Jorge Schneider (PL), Juscelino da Barbarense (PL), Luiz Cirilo (PSDB), Major Jaime (PP), Marcelo Silva (PSD), Nelson Hossri (PSD) e Professor Alberto (PL). As únicas duas abstenções foram de dois vereadores do Republicanos, partido do prefeito Dário Saadi, Fernando Mendes e Higor Diego. Os demais parlamentares não participaram da votação.
Após vencer a votação, Bufalo foi até a tribuna utilizando o tempo de liderança e destacou três pontos em sua fala. O primeiro, a lembrança da relevância do instrumento da Comissão Processante, citando outras ocasiões em que o pedido foi feito e rejeitado por unanimidade pelo entendimento de que as responsabilidades iam além do que estava sendo atribuído. O segundo, que o a ocupação foi organizada por um movimento de mulheres e que ele não teve qualquer influência nisso, citando que são mulheres que há anos estão à frente das reivindicações - com autonomia, independência e protagonismo reconhecidos por ele. Por fim, o terceiro ponto citado pelo vereador foi quanto ao uso do carro oficial para atender a um chamado, defendendo que é um instrumento de trabalho e que não poderia se omitir ao ser chamado para defender um movimento popular que ele respeita.
Em conversa com a reportagem, Bufalo ainda destacou que pretende estimular os demais vereadores a abraçar o projeto e fazer com que ele ganhe mais força junto à Prefeitura e à Secretaria de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos.
Apoio em frente à Câmara
Duas horas antes do início da reunião ordinária, cerca de 100 apoiadores do vereador estiveram presentes em frente ao Legislativo para um ato em defesa do mandato de Bufalo. Diversos movimentos participaram da manifestação. Até então, a informação que circulava era a de que o pedido de instauração da CP não seria realizado na quarta-feira à noite pelo não cumprimento de alguns requisitos para que ele fosse considerado válido. O autor do pedido conseguiu minutos antes das 18h, horário limite, apresentar comprovação de regularidade eleitoral que, segundo o presidente da Casa, Luiz Rossini (PV), era o fator impeditivo para que o processo tramitasse e a leitura e votação fossem realizadas.
Controvérsia
O imóvel foi ocupado recentemente pelo Movimento de Mulheres Olga Benário que pretende usar o espaço para o acolhimento de mulheres vítimas de violência. A alegação é de que a casa estava abandonada há quase uma década. Álvaro César de Camargo Andrade disse que o imóvel está desocupado há um ano devido à crise financeira causada pela pandemia, mas que os impostos municipais estão pagos e a documentação regularizada.
Bufalo e o empresário protagonizaram uma primeira confusão no local na quarta-feira da semana passada. Dois dias depois, a aparição do ex-deputado estadual Arthur do Val, cassado por quebra de decoro parlamentar depois do vazamento de áudios com teor machista direcionado às ucranianas, surpreendeu e gerou uma nova confusão no local, com os dois lados informando o registro de boletins de ocorrência.