60% do público atendido são idosos que buscam alimento e companhia; pessoas em situação de rua também são presença constante e se beneficiam do baixo valor das refeições (Alessandro Torres)
Espaço de convivência e alimentação saudável, o Bom Prato de Campinas celebrou 21 anos de funcionamento na quinta-feira (6). A unidade preparou um cardápio especial no almoço, que ofereceu lagarto assado com champignon, batata ao molho de queijo, salada de folhas verdes com palmito e cebola roxa, arroz e feijão. A sobremesa foi bolo de pote. Desde o início do seu funcionamento, o Bom Prato Campinas serviu cerca de 10,6 milhões de refeições. Diariamente, são servidas 2,4 mil merendas. Profissionais do local destacam que o Bom Prato alimenta o corpo e também promove a interação entre as pessoas. Enquanto esperam na fila, as pessoas costumam conversar, jogar e até mesmo começam relacionamentos amorosos.
Às 7h, no café da manhã, o Bom Prato oferece 300 refeições, que custam R$ 0,50. Para o almoço, são ofertadas 1.800 no valor de R$ 1,00. Além disso, são preparadas mais 300 marmitas entregues no Bom Prato Móvel, também por R$1,00. A comida começa a ser servida às 10h30. Por fim, às 17h, são fornecidas mais 300 refeições para o jantar, por R$ 1,00. O Bom Prato de Campinas fica localizado na Avenida Dr. Moraes Salles, no Centro. Cerca de 60% do público atendido são idosos que buscam alimento e companhia. Além desse público, pessoas em situação de rua também frequentam o local e se beneficiam do baixo valor para se alimentar.
O gestor do Bom Prato na Região Metropolitana de Campinas (RMC), Reuber Luis Boschini, explicou que o restaurante é para toda a população.
“O Bom Prato é aberto para todos, mas os idosos são o nosso público mais fiel. Por exemplo, o Seu Benê tem 90 anos e vem aqui almoçar desde a inauguração. Ele vem sozinho. Não é um caso raro, são várias pessoas como ele. Tem casos de casamento, que aconteceu com pessoas que frequentam aqui, e namoros. Então, o Bom Prato é um centro de convivência. Não é somente para encher a barriga, o Bom Prato vai além disso. É o convívio social entre as pessoas, principalmente os idosos, e uma boa alimentação, que é a saúde”, revelou.
Boschini é voluntário no restaurante há 11 anos. Ele contou que o espaço oferece uma refeição balanceada com 1.200 calorias no almoço por um valor acessível. Além de ser um local que proporciona mais do que a alimentação, o Bom Prato não nega alimentos aos necessitados.
“Eu sempre falo que as pessoas que não têm dinheiro não vão ficar sem comer aqui. Não é pela questão do R$ 1,00 que vão ficar sem comer. Aqui, a nossa entidade banca e a pessoa almoça”. O local trabalha por demanda, ou seja, cada refeição tem a capacidade de alimentar uma quantidade pré-determinada de pessoas.
Com relação ao aniversário, o gestor comemorou esse marco, uma vez que o Bom Prato existe há 21 anos em Campinas. Boschini disse que é comum uma política assistencial deixar de existir ao longo dos anos, mas o Bom Prato continua operando e tem planos de expansão.
“É fantástico. Eu acho que tem que avançar mais. Campinas tem a possibilidade de receber mais dois (restaurantes) Bom Prato, no Ouro Verde e Campo Grande. Provavelmente será inaugurada, ainda este ano, uma cozinha central do Bom Prato, onde serão fornecidos dois mil marmitex através do Bom Prato Móvel nas regiões de Campinas que mais precisam. É um projeto que está em crescimento constante.”
Por fim, Reuber Boschini elogiou as pessoas que frequentam o local.
“A população é fantástica. Não é apenas o alimento, é o carinho, o acolhimento. O objetivo da nossa entidade é fazer a diferença na vida dessas pessoas para um mundo melhor.”
Esse carinho é compartilhado por toda a equipe do Bom Prato. A nutricionista Jéssica Mariana Luck Machado trabalha no local há 5 anos e avaliou que o projeto funciona porque atende todo mundo.
“O Bom Prato abrange muita gente, por mais que ele tenha sido criado para atender pessoas em situação de vulnerabilidade social.”
A nutricionista disse que se sente grata ao ver todo o trabalho que ela tem, que passa pela programação de compras, planejamento do cardápio, controle da equipe e qualidade do alimento, se materializar nas refeições diárias.
“Quando o cliente chega, senta, abaixa a cabeça e começa a fazer uma oração, é muito gratificante. Eu penso que valeu a pena estar aqui. É por isso que eu estou aqui, eu faço o que eu gosto. O Bom Prato nutre o estômago e nutre com o carinho, amor e afeto que temos. Nós conversamos com eles e damos atenção”, revelou.
Para comemorar o aniversário do local, Jéssica preparou um cardápio especial com um bolo de sobremesa.
“O nosso cardápio do almoço de hoje (quinta-feira) para comemorar 21 anos de Bom Prato foi todo pensado para ser um prato gostoso e com cara de festa.”
O Bom Prato foi fundado no dia 26 de junho de 2022, mas a comemoração, por questões do planejamento do restaurante, aconteceu na quinta-feira (6).
O aposentado Roque Cosmo dos Santos, 73 anos, aprovou o cardápio especial preparado para a comemoração.
“Hoje está especial. A comida aqui é muito boa”. Dimas Veloso, 63 anos, também aposentado, é frequentador assíduo do Bom Prato.
“Aqui é muito bom. A comida é muito boa, é muito gostoso. As pessoas tratam bem a gente”, disse Veloso, que também elogiou a festa preparada pela equipe. O aposentado de 63 anos vai ao local almoçar e encontrar com alguns amigos.
Apesar de o costume ser presentear o aniversariante, desta vez, quem celebrou a data festiva inverteu a tradição e presenteou os convidados. Essa foi a percepção da auxiliar de limpeza Luciene Silva. “É uma delícia. O aniversário estava uma benção de Deus. O Bom Prato faz aniversário e somos nós que ganhamos o presente, porque ofereceram um banquete abençoado. Pena que eu não trouxe o meu celular para tirar foto.”
Marília Rodrigues de Oliveira, 28 anos, é desempregada e acompanha o marido que vende bala nos semáforos do Centro de Campinas. “Venho almoçar aqui com ele e a minha filha quase todos os dias. Eu acho a comida muito boa e barata. Isso ajuda muito a gente. Com um real, a gente come bastante. Graças a Deus é muito bom.”
A aposentada Sônia Tereza dos Santos, 56 anos, estuda perto do Bom Prato e tem o costume de almoçar no local. Agora, em julho, ela está de férias, mas não deixou de comparecer na festa. Aliás, ela marca presença nos almoços festivos do restaurante.
“Pena que tem somente esse. Eu acredito que precisa de mais dois ou três, porque Campinas é bem grande. Se conseguissem fazer mais, seria bom, porque ajuda muitas pessoas e a comida é boa. Muito boa mesmo”, sugeriu a aposentada.
