O distrito de Barão Geraldo dispõe de uma variedade de estabelecimentos comerciais, serviços e áreas verdes que conferem uma qualidade de vida única aos seus habitantes (Alessandro Torres)
O distrito de Barão Geraldo, situado no município de Campinas, completou no último sábado (30) sete décadas de uma rica trajetória que se entrelaça com o desenvolvimento da região, destacando-se como um relevante polo cultural, tecnológico e educacional. Fundado em 1954, o distrito preserva a sua identidade histórica, ao mesmo tempo em que se adapta dinamicamente às demandas contemporâneas.
A origem da região remonta ao século XIX, quando os primeiros colonizadores portugueses, espanhóis, libaneses e italianos começaram a estabelecer-se. No início do século XX, Barão Geraldo testemunhou uma efervescência econômica impulsionada pela produção agrícola, especialmente de café. Contudo, foi na década de 1950 que a área adquiriu o status de distrito, recebendo o nome de Barão Geraldo por estar estrategicamente situada entre as fazendas Rio das Pedras e Santa Genebra, próximas a uma estação que ostentava esse título.
Ao longo dos anos, Barão Geraldo experimentou uma metamorfose, transitando de uma comunidade rural para uma região que harmoniza de maneira equilibrada o desenvolvimento urbano com a preservação de suas raízes históricas.
Atualmente, a região se destaca por sua infraestrutura moderna e diversificada. O distrito abriga renomadas instituições de ensino superior, incluindo a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), o Sirius (a mais complexa infraestrutura científica já construída no país para pesquisa com luz síncrotron) e o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), consolidando-se como um polo acadêmico de referência nacional. Além disso, a região dispõe de uma variedade de estabelecimentos comerciais, serviços e áreas verdes que conferem uma qualidade de vida única aos seus residentes.
O planejamento urbano de Barão Geraldo foi crucial para equilibrar o crescimento populacional com a preservação ambiental. Parques, praças e ciclovias destacam-se como características marcantes, proporcionando não apenas espaços de lazer, mas também fomentando a interação harmoniosa com a natureza.
Não por acaso, os habitantes da região ecoam em uníssono a opinião de que não trocariam Barão Geraldo por qualquer outra parte da cidade.
O físico Antonio Magalhães de Almeida Prado, 72 anos, estabeleceu residência na região há 28 anos. Graduado em São Paulo, ele buscava se reconectar com o campo científico e identificou no bairro que abriga a Unicamp uma oportunidade para isso.
"Andando pelo centro de Barão Geraldo, que na época se assemelhava mais a uma pequena cidade do interior, sem vida noturna e com os descendentes das famílias tradicionais morando aqui, vi uma pequenina banquinha à venda. Imaginei em transformá-la em uma banca como as da Avenida Paulista, porque sabia que na região teria um bom número de leitores devido à universidade. E deu certo", recorda.
A banca, localizada na Avenida Santa Isabel, prosperou significativamente, levando Prado a abandonar sua carreira como físico. A partir do seu estabelecimento, ele não apenas testemunhou o sucesso de seu negócio, mas também foi espectador do florescimento da região.
Prado acredita que sua banca foi o primeiro empreendimento na região a manter-se aberto até meianoite. "Os bares começaram a surgir, transformando isso em algo semelhante ao Cambuí ou Vila Madalena de São Paulo. A região cresceu nessa direção, e eu me considero pioneiro na inauguração, como alguns mais antigos afirmam, da vida noturna em Barão Geraldo", relata.
Atualmente, a região abriga cerca de 65 mil habitantes permanentes e mais 20 mil flutuantes, diretamente ligados às universidades. Composta por 72 bairros e vilas, Barão Geraldo ostenta a maior área de mata atlântica preservada no município de Campinas.
O pai de Lúcia Elena Mateus, comerciante de 53 anos, Antonio José Mateus, foi um dos pioneiros na estruturação de um desses bairros, o Jardim América. Embora tenha falecido há dois anos, Lúcia recorda de uma infância animada. Seu pai era um mobilizador comunitário, organizando festas e pressionando os vereadores a construir praças, regularizar a distribuição de energia elétrica e investir no desenvolvimento da região.
Do pai, Lúcia também herdou a profissão. Foi ele quem estabeleceu a primeira mercearia no Jardim América, quando ainda não era oficialmente considerado um bairro. Atualmente, ela administra uma papelaria no edifício deixado por seu pai.
"Viver em Barão Geraldo é uma experiência única. Aqui, cultivamos a cultura dos pequenos negócios. Tenho clientes que não entram na loja apenas para adquirir o que necessitam, mas também para compartilhar conversas. Passamos horas trocando afeto, nos apoiando e nos ouvindo. Essa é uma característica marcante desta comunidade", relata.
Mesmo entre as gerações mais jovens, como a de Gustavo Queiroz Alves, de 35 anos, o olhar em relação ao Distrito permanece inalterado.
"Nasci e cresci em Barão. Estou à frente do meu próprio negócio desde 2002, e não cogito a ideia de me mudar daqui. É um local tranquilo, com acesso facilitado a todos os serviços, como bancos, mercados e rodovias. Além disso, a região mantém uma conexão harmônica com o meio ambiente, o que torna o Distrito um lugar agradável", destaca Alves.
FUTURO
Aos 70 anos, Barão Geraldo projeta-se para o futuro, destacando-se entre os debates o Projeto de Lei Complementar (PLC) que pretende alterar o uso do solo na área designada como Polo de Inovação para o Desenvolvimento Sustentável (Pids), abrangendo 17 milhões de m² no próprio distrito. O prefeito Dário Saadi (Republicanos) assinou o texto no final do ano passado, e sua avaliação está prevista para este ano pela Câmara de Vereadores.
O PLC abraça diversas medidas, incluindo a construção de edifícios entre quatro e sete pavimentos, a criação do Parque Ambiental Anhumas, a limitação do tamanho de quadras e a promoção de meios sustentáveis para a economia criativa. A proposta baseia-se no conceito de "Cidade de 15 minutos", visando a coexistência de moradia e inovação tecnológica no mesmo espaço. A legislação urbanística específica para a ocupação do solo na área do Pids é orientada pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Organização das Nações Unidas (ONU), dos quais Campinas é signatária.
A ocupação prioritária no Pids busca construções com fachadas ativas, promovendo a interação com os espaços públicos, e utilizações mistas, unindo moradia, trabalho, comércio e lazer, com ênfase na preservação ambiental. A prioridade é para pedestres, ciclistas e transporte público, com uma estrutura que limita o tamanho de quadras e facilita a mobilidade para pedestres.
Adicionalmente, o projeto propõe a criação do Parque Ambiental Anhumas ao longo do Ribeirão Anhumas, que atravessa quase toda a região, com trechos destinados a espaços de lazer e outros para preservação e pesquisa. A expectativa, caso seja aprovado, é um crescimento populacional de até 60 mil pessoas a longo prazo.
A proposta não encontra consenso entre os moradores do distrito. Muitos defendem a manutenção da região como está, temendo a transformação em um novo centro com densidade populacional excessiva para a infraestrutura existente. "Barão Geraldo parece entrar em um ritmo de crescimento acelerado, devido às universidades e aos polos tecnológicos. É um crescimento aparentemente quase explosivo. E isso preocupa um pouco, pois a região pode ter mais moradores do que infraestrutura para isso", destaca Prado.
Para o subprefeito do Distrito de Barão Geraldo, Osvaldo Kaize, o projeto caminha na direção oposta. "Ele vai melhorar a qualidade de vida de toda a população, trazendo mais mobilidade, energia e tecnologia para o Distrito."
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