AINDA SEM DATA

Após Laurão, Viaduto da Aquidabã também receberá intervenções paisagísticas

Secretário de Serviços Públicos, Ernesto Paulella informou que estuda uma parceria com a Setec, que tem um projeto para explorar comercialmente o espaço

Bruno Luporini/bruno.luporini@rac.com.br
08/01/2025 às 12:00.
Atualizado em 08/01/2025 às 12:27
Intervenção que ocorre no Laurão tem o intuito de embelezar o local, destacando suas características arquitetônicas e trazendo mais verde para os locais cinzas da cidade; as pedras foram instaladas na década de 90 com o objetivo de evitar concentração de pessoas em situação de rua embaixo do viaduto, algo que é conhecido como "arquitetura hostil" (Rodrigo Zanotto)

Intervenção que ocorre no Laurão tem o intuito de embelezar o local, destacando suas características arquitetônicas e trazendo mais verde para os locais cinzas da cidade; as pedras foram instaladas na década de 90 com o objetivo de evitar concentração de pessoas em situação de rua embaixo do viaduto, algo que é conhecido como "arquitetura hostil" (Rodrigo Zanotto)

Os viadutos da cidade de Campinas vão receber novas cores em 2025. O primeiro é o Viaduto São Paulo, conhecido como Laurão, localizado na Avenida Moraes Salles. As pedras que foram instaladas no local há 32 anos foram retiradas e estão dando lugar a jardins de flores. De acordo com o secretário municipal de Serviços Públicos, Ernesto Paulella, o Viaduto da Aquidabã, cruzamento com a avenida Francisco Glicério, é o próximo alvo da Secretaria. “Estamos estudando quais serão as intervenções que ocorrerão neste local”, afirmou Paulella.

Para o secretário, a intervenção que ocorre no Laurão tem o intuito de embelezar o local, destacando suas características arquitetônicas e trazendo mais verde para os locais cinzas da cidade. As pedras foram instaladas na década de 90 com o objetivo de evitar concentração de pessoas em situação de rua embaixo do viaduto, algo que é conhecido como "arquitetura hostil". Paulella explicou que a retirada das pedras não teve a finalidade de combater a arquitetura hostil. Para ele, “é uma coincidência, mas não quer dizer que, para os padrões de hoje, as pedras não possam ser consideradas como elementos hostis”. O principal objetivo da ação é levar mais plantas e árvores para os espaços públicos.

Paulella acrescentou que o fato de ter pedras ou jardim por si só não combate a desigualdade social, destacando que os projetos urbanísticos podem auxiliar políticas públicas que têm como objetivo a redução da pobreza. “Essa é uma questão mais complexa”, destacou. Para o secretário, fatores econômicos, como o desemprego e a falta de oportunidades de trabalho, os problemas de vícios em substâncias químicas e questões de desagregação familiar, são o cerne do problema.

Com relação ao viaduto da Avenida Aquidabã, Paulella disse que estuda uma parceria com a autarquia de Serviços Técnicos Gerais (Setec), que lançou um projeto para permitir a exploração comercial no local. O objetivo é criar um projeto que, além da utilização comercial, receba elementos urbanísticos mais verdes e bonitos, a fim de humanizar o local. “Esse viaduto, do jeito que ele está, sem nada, é hostil por si só”, reforçou. O projeto precisa ser finalizado e ainda não tem data para ser implementado. Sobre possíveis intervenções em outros viadutos da cidade, o secretário afirmou que serão feitos estudos e avaliações de outros locais. “Estamos tomando muito cuidado com esse processo para não criar expectativas antecipadas.”

Para o presidente da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Campinas (Aeac), Paulo Sérgio Saran, a ação da Secretaria de Serviços Públicos é fundamental. Ele entende que o processo de ajardinamento de viadutos, como ocorre no Laurão, deveria ser uma prioridade para trazer mais humanização e verde para a cidade. Segundo Saran, além da estética, essa é uma forma de aumentar o controle climático e amenizar as temperaturas de Campinas, somada às ações de arborização.

Saran ressaltou que as ações de melhorias urbanas, como a retirada de elementos hostis e investimentos tanto na urbanização quanto nas ações sociais para cuidar de pessoas em situação de rua são complementares. “Tais iniciativas são realizadas por pastas diferentes, porém, juntas, elas contribuem para a melhoria da qualidade de vida da cidade como um todo”, pontuou. Para ele, a desigualdade social e a estética urbana são problemas que precisam de uma resolução em conjunto, unindo programas sociais e parcerias com entidades. “Dessa forma, tratando as pessoas com dignidade e reduzindo os impactos do crescimento desordenado, podemos melhorar Campinas em toda sua extensão.”

A consultora de vendas, Eliana Savoya, 61, é natural de Limeira e reside em Campinas há 30 anos. Todos os dias ela sai do Cambuí e se desloca de bicicleta até o trabalho, localizado ao lado do Laurão, e está otimista com a transformação do viaduto. “Vai ficar muito mais bonito e gostaria que, quando pronto, ele seja conservado.” Eliana comentou que se preocupava com o acúmulo de água entre as pedras. “Eu contraí dengue e creio que ali ficava o criadouro dos mosquitos”, contou. Ela ligou para a Prefeitura e fez uma denúncia e agentes públicos foram até o local para averiguar a situação. “Além da água empoçada, algumas pessoas também faziam suas necessidades ali. É uma situação muito triste”, lamentou.

A implementação de infraestruturas verdes nas cidades em parques, praças e embaixo de viadutos melhora as taxas de permeabilidade do solo, e o aumento do volume de árvores e plantas nesses locais contribui com a qualidade do ar e no controle da temperatura local. Essa é a análise da arquiteta e urbanista Vanessa Bello Figueiredo. “Vivemos em uma cidade muito cinza. Tornar esses espaços mais verdes, além da questão ambiental, desempenha um papel psicológico, melhorando a relação do homem com a cidade”, pontuou.

VULNERABILIDADE

Vanessa vê a rua como um espaço de circulação, de lazer e fruição pública. “Não deveria ser um local de moradia.” Para que os espaços públicos não sejam “lares” de pessoas em situação de vulnerabilidade, Vanessa entende que é preciso investir em políticas públicas de moradia. “São 54 mil imóveis vazios em Campinas, por isso o poder público precisa estabelecer políticas habitacionais mais eficientes”, avaliou.

A arquiteta, que também é doutora em planejamento urbano pela Universidade de São Paulo (USP), concorda que as resoluções para melhorar a vida das pessoas que estão em vulnerabilidade social, tornando ao mesmo tempo as cidades mais sustentáveis, são complexas. As melhorias nas condições de lazer para as crianças, segurança, iluminação e sistemas econômicos que aperfeiçoem as condições de trabalho, especialmente para as mães solo, criam um desenho de cidade mais acolhedor. “Cuidar das pessoas significa entender que os problemas são públicos e a resolução, que é de interesse coletivo, passa pela aplicação de boas políticas públicas”, concluiu.

Domingos da Silva Paiva, 38, nasceu no Piauí e há 23 anos reside em Campinas. Há 30 dias ele está vivendo nas ruas da cidade. Devido à dependência química, a esposa o expulsou de casa. Ele escolheu o Laurão por ser mais afastado do Centro, pois “lá é mais perigoso”. Paiva contou que durante a noite outras pessoas aparecem para dormir embaixo do viaduto. “Eu fico quieto para não chamar a atenção e ser roubado. Ou mesmo sofrer alguma violência”, revelou. A respeito da substituição das pedras pelo jardim, ele ponderou que a mudança pode ser tanto boa quanto ruim. “Para mim melhora o ambiente, mas alguém mal-intencionado pode usar o local para esconder uma faca ou outros objetos”, alertou. Sobre a sua situação, Domingos disse que gostaria de se recuperar do vício e voltar a trabalhar para conseguir voltar a viver com a esposa.

Um dos exemplos de ações que impactam na conscientização e qualidade de vida das pessoas em situação de rua é o trabalho social realizado desde 2023 em parceria entre a Catedral Metropolitana de Campinas, a Associação Esperança e Vida, que acolhe dependentes químicos, e o projeto Geladeira Solidária. A ação, realizada uma vez por mês na Praça José Bonifácio, onde está localizada a Catedral, oferece um jantar solidário às pessoas em situação de rua. “Aproveitamos esse momento para fazer abordagens que buscam a educação social”, comentou o padre Caio Augusto de Andrade, pároco da Catedral. Segundo ele, o objetivo, além da alimentação, é sensibilizar as pessoas sobre a importância de buscar um tratamento adequado para o vício em substâncias químicas, possibilitando a retomada dos estudos e reinserção no mercado de trabalho, “condições para devolver a perspectiva de vida para essas pessoas”. A ação social não será realizada neste mês de janeiro, mas as atividades voltam a acontecer em fevereiro.

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