O governo da Bolívia afirmou neste domingo desconhecer como o senador opositor Roger Pinto deixou o país na madrugada deste domingo rumo ao Brasil, onde recebeu asilo político, e o declarou foragido da justiça. "Pinto estaria em Corumbá (no Mato Grosso, na fronteira com a Bolívia). Supomos que ele tenha saído por vias terrestres, através de algum acesso sem posto de controle migratório, de forma que agora ele é considerado foragido", declarou o ministro Carlos Romero à imprensa estatal. Romero afirmou que o senador abandonou "o país ilegamente, com contas a acertar na justiça", e que os procedimentos legais serão aplicados. O ministro disse ter confiança de que "a embaixada (do Brasil na Bolívia), pelos canais diplomáticos, dará as devidas explicações". O ministro informou que pediu, mediante a polícia boliviana, que o governo alerte a Interpol, não apenas porque há "uma sentença e a proibição de saída" do senador, como também pelo "deslocamento para um país vizinho sem realizar o registro oficial de saída da Bolívia". Amizade continua Apesar do imbróglio diplomático criado pela saída do senador para o Brasil, o governo boliviano garantiu que as relações entre os dois países não serão afetadas, embora uma explicação oficial de Brasília seja aguardada. "Este caso não afeta as relações com o Brasil. As relações entre Bolívia e Brasil continuam numa situação de absoluta cordialidade e respeito", disse a Ministra da Comunicação, Amanda Dávila, em coletiva de imprensa. Dávila garantiu que "o governo boliviano e o presidente Evo Morales sempre expressaram, e continuam o fazendo, todo seu afeto e respeito pela presidente (Dilma) Rouseff, e pelo governo brasileiro". A saída do senador do território boliviano não foi, segundo a ministra, negociada. "Nenhuma permissão foi outorgada a ele", disse. Ela explicou que por trás do caso Pinto "existem interesses políticos" de setores "ultra-conservadores" tanto da Bolívia quanto do Brasil. "É um caso que se criou de maneira fictícia com informações falsas enviadas ao governo brasileiro por parte de sua embaixada em La Paz", acrescentou Dávila. Em entrevista a um canal de televisão privado, a ministra culpou o ex-embaixador do Brasil na Bolívia, Marcel Biato, pelo envio de informações distorcidas. Investigação brasileira A chancelaria brasileira investigará a saída de Pinto da Bolívia e sua entrada no Brasil, onde tem asilo político, anunciando que "tomará as medidas administrativas e disciplinares correspondentes", disse em nota este domingo. "O Ministério está reunindo elementos sobre as circunstâncias em que foi verificada a saída do senador boliviano da embaixada brasileira e sua entrada em território nacional", disse a nota oficial, acrescentando que chamará seu encarregado de Negócios em La Paz para consultas em Brasília. O senador, de 53 anos, buscou refúgio em maio de 2012 na delegação brasileira em La Paz, argumentando perseguição política após apresentar denúncias de corrupção contra o governo. Apesar de o Brasil ter concedido asilo político a ele, o governo boliviano negava o salvo-conduto alegando que seu caso não era político, mas sim jurídico. Em junho, um tribunal condenou Pinto a um ano de prisão por prejuízos econômicos ao Estado, apesar de sua defesa responder que trata-se de "uma decisão política" destinada a dificultar sua saída do país.