A expressão “sair do armário” ganhou proporções expansivas, é repetida na mídia, no anedotário popular, nas reuniões reais, na virtualidade das redes sociais, criando até um clima de humor negro, um temor expectante nas famílias. Elas reservam uma vultosa desconfiança de que isso possa acontecer com um de seus membros.
A proporção de indivíduos com homossexualidade predominante em suas vidas segue na ordem de 10 a 15% da população em geral, um pouco maior no gênero masculino.
A sociedade brasileira ainda preserva o preconceito, há pais que não suportariam ser informados da homossexualidade de um filho, outros que ameaçam de morte aquele que se revele.
De modo geral, a mãe costuma ter mais tolerância e aceitação, mesmo que sofra amargamente em sua alma, muitas vezes se perguntando: “Onde eu errei?”. O pai menos conservador também pode se associar à esposa: “Onde foi que erramos?!”...
As explicações que tentam ser aplicadas à construção da homossexualidade seguem insuficientes.
Estudos biológicos exageram na destinação genética, na definição dos fatos orgânicos (hormônios, estruturas cerebrais, química dos comportamentos etc).
Enfoques psicológicos escorregam na insistência da exclusividade dos fatores emocionais, edípicos, da interação na dinâmica familiar.
Os tópicos socioculturais também têm valores ambivalentes, ora destacando, ora desprezando a pressão moralista, a linha educativa, as demandas religiosas e até os aspectos regionais de conservadorismo ou vanguarda das cidades e países.
Todo esse panorama incerto mobiliza o interior da personalidade daquela pessoa prestes a decidir pela sua orientação sexual preponderante. Dentro dela, isso pode ficar caótico e estressá-la a ponto de promover atitudes extremas, antinaturais e descabidas.
Todos nós temos uma bissexualidade proporcional a cada biografia. Desde a metade do século passado, Alfred Kinsey demonstrou que há uma proporcionalidade do desejo e do comportamento bissexual nas pessoas. Em um polo, os que têm um mínimo de homossexualidade e um máximo de heterossexualidade; no outro, o contrário, e muitas variações entre os dois extremos.
O filme mais recente (2012) do agente 007, Operação Skyfall, comemora 50 anos da franquia sugerindo conduta bissexual do mais conhecido e invejado modelo masculino de sucesso entre as mulheres...
Pelo menos em relação à competição entre congêneres, todos experimentamos a homorrivalidade (sentir atração comparativa não erótica).
Os homens se impressionam com o pênis maior do outro no vestiário masculino; as torcidas de futebol se xingam de “bichas”; as mulheres se vestem para ser notadas pelas outras e se submetem à ditadura da beleza que as exige magras e jovens.
Para seguir de modo mais natural e espontâneo o seu desejo sexual, a pessoa tem que avaliar as suas fantasias, seus medos e suas inclinações amorosas e eróticas. As questões seguintes ajudam a pessoa a se reconhecer melhor em suas faixas de bissexualidade:
1 - O que predomina na minha mente quando me masturbo? Fantasias homo, hetero ou bissexuais?
2 – Sinto mais medo (sempre existe um nível de medo em qualquer relação) quando estou com homem ou com mulher? Medo igual com os dois?
3 – Amo com mais facilidade um homem ou uma mulher? Os dois igualmente?
4 – O sexo casual é mais fácil com homem ou mulher? Tanto faz?
5 – Quero ter filhos, constituir família? Gostaria que fossem com a minha genética? Adotados?
6 – Sou muito atento aos meus homorrivais? Fico me comparando a toda hora?
A ajuda de um psicoterapeuta é fundamental, desde que não seja profissional comprometido com determinada orientação sexual, ideologia ou religião.
A famigerada decisão de “sair do armário” exige que a pessoa se conheça mais profundamente e não sofra influência dos modismos ou de grupos.
Alguns são convencidos a subir nos palanques e pregar pelos interesses partidários, vestir a camisa, portar uma bandeira, como se estivessem comprometidos com um sindicato de ordem homossexual.
Essa política pode ser inconveniente, por vezes desastrosa, chegando a defesas fanáticas e absurdas.
O mais importante é que a pessoa se reconheça em seus níveis de homo e heterossexualidade, siga a bússola da inspiração íntima e não se deixe conduzir por militância badalada e interesses alheios.
Também é essencial evitar os holofotes e somente participar de comícios e paradas quando estiver realmente se sentindo com a alma livre e divertindo-se.
Quero lembrar ao leitor do nosso Grupo de Estudos do Amor (GEA). No site www.blove.med.br, clique GEA. Ou procure em http://www.anggulo.com.br/gea/eventos.asp. Inscreva-se para participar dos eventos das segundas-feiras, inclusive as palestras das 19h30, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi.