Internacional

Xi Jinping pressiona Biden e diz EUA 'não brinquem com fogo' na questão Taiwan

Estadão Conteúdo
28/07/2022 às 16:34.
Atualizado em 28/07/2022 às 16:41

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o chinês, Xi Jinping, conversaram por mais de duas horas nesta quinta-feira, 28, em meio a novas tensões econômicas e geopolíticas entre os dois países. No telefonema, o presidente da China teria alertado o americano a "não brincar com fogo" em relação à Taiwan, em meio à possível viagem planejada pela presidente da Câmara, Nancy Pelosi, à ilha.

A ligação terminou por volta das 10h50 do horário de Washington (11h50 de Brasília) de acordo com a Casa Branca. "Aqueles que brincam com fogo acabam se queimando", disse Xi a Biden, segundo declarações da agência estatal Xinhua. "Espero que o lado americano entenda isso".

"O presidente Xi destacou que os meandros históricos da questão de Taiwan são claros como cristal, assim como o fato e o status quo de que ambos os lados do Estreito de Taiwan pertencem à mesma China", disse o Ministério de Relações Exteriores da China em nota.

"A China se opõe firmemente aos movimentos separatistas em direção à 'independência de Taiwan' e à interferência de forças externas, e nunca permite espaço para forças de independência de qualquer forma. Aqueles que brincam com fogo se queimarão. Espera-se que os EUA estejam claros disso. Os EUA devem honrar o princípio de uma só China", completa a nota.

Os chineses disseram que Biden expressou o desejo de cooperar sempre que possível e administrar as diferenças onde elas existiam, acrescentando que ele repetiu que a política americana em relação à China e Taiwan permanece a mesma. "Ele reiterou que a política de uma só China dos EUA não mudou e não mudará, e que os EUA não apoiam a 'independência de Taiwan'", disse o comunicado.

Por sua parte, a Casa Branca disse que "Biden ressaltou que a política dos Estados Unidos não mudou e que os Estados Unidos se opõem fortemente aos esforços unilaterais para mudar o status quo ou minar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan".

"Os dois presidentes discutiram uma série de questões importantes para o relacionamento bilateral e outras questões regionais e globais, e encarregaram suas equipes de continuar acompanhando a conversa de hoje, em particular para abordar as mudanças climáticas e a segurança sanitária", completou a nota da presidência americana.

Viagem de Pelosi

O telefonema ocorreu quando a possível viagem de Pelosi a Taiwan gerou polêmica em Pequim, que fez ameaças de retaliação se ela prosseguir com os planos. Nenhuma viagem foi anunciada oficialmente, mas Pelosi pediu a outros membros do Congresso para se juntarem a ela no próximo mês para o que seria a primeira visita de um presidente da Câmara em 25 anos à ilha autônoma. A viagem devia ter ocorrido em abril, mas foi adiada após Pelosi testar positivo para covid-19.

"Se os EUA insistirem em seguir seu próprio caminho e desafiar as linhas vermelhas da China, certamente serão recebidos com respostas contundentes", disse Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, a repórteres no início desta semana quando foi questionado sobre a viagem. "Todas as consequências resultantes serão suportadas pelos EUA"

Pelosi seria a autoridade eleita de mais alto escalão dos EUA a viajar para Taiwan desde que o republicano Newt Gingrich visitou a ilha em 1997, quando era presidente da Câmara. Na semana passada, Biden disse a repórteres que oficiais militares dos EUA acreditavam que "não era uma boa ideia" o orador visitar a ilha no momento.

A Casa Branca teme que a viagem provoque desnecessariamente a China, especialmente quando os Estados Unidos e a Europa estão empenhados em ajudar a Ucrânia a combater invasores russos. Enquanto oficiais da Casa Branca dizem que cabe à presidente da Câmara decidir sua própria agenda, a mensagem não dita no Capitólio tem sido uma pressão sobre ela para adiar ou cancelar.

A possível viagem da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan no mês que vem aumentou as tensões entre EUA e China

A possível viagem da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan no mês que vem aumentou as tensões entre EUA e China Foto: Drew Angerer / AFP

As tensões estão altas na região há meses, pois a China se recusou a se juntar ao esforço liderado pelos americanos para isolar a Rússia, fez reivindicações de controle sobre o Estreito de Taiwan e se envolveu em vários encontros muito próximos com aeronaves americanas, canadenses e australianas. A guerra na Ucrânia está sendo observada com atenção pelas implicações para Taiwan.

Biden prometeu em maio usar a força para defender Taiwan se a ilha for atacada, a terceira vez que ele disse isso durante sua presidência, embora ele e seus assessores mais tarde tenham insistido que o presidente não estava mudando a política americana de longa data de "ambiguidade estratégica".

John Kirby, porta-voz de segurança nacional dos EUA, disse na quarta-feira que era importante que Biden e Xi mantivessem uma base de diálogo regular. "O presidente quer garantir que as linhas de comunicação com o presidente Xi permaneçam abertas porque precisam", disse Kirby a repórteres em uma entrevista na Casa Branca. "Há questões em que podemos cooperar com a China, e há questões em que obviamente há atrito e tensão."

Biden e Xi conversaram pela última vez em março, logo após a invasão russa da Ucrânia. "Esta é uma das relações bilaterais mais importantes do mundo hoje, com ramificações muito além de ambos os países individualmente", disse Kirby.

A conversa ocorre quando Biden fez mudanças na dependência dos EUA aos produtos de fabricação chinesa, incluindo a aprovação no Senado na quarta-feira de uma legislação para incentivar empresas de semicondutores a construir mais fábricas de alta tecnologia nos EUA, como uma alternativa à "Nova Rota da Seda" da China, que visa impulsionar o comércio da China com outros mercados globais.

Kirby listou uma série de áreas de atrito EUA-China que ele disse que fariam parte da conversa, incluindo "tensões sobre Taiwan, tensões sobre o comportamento agressivo da China no Indo-Pacífico fora de Taiwan, tensões no relação econômica" e sobre a reação da China à guerra da Rússia na Ucrânia.

A forte retórica nos últimos dias pretendia dissuadir Pelosi de fazer a viagem, mas não significava que a China usaria força militar, disse um especialista chinês em relações com os Estados Unidos. A China não queria brigar com os Estados Unidos por causa de sua visita, disse Shi Yinhong, professor de relações internacionais da Universidade Renmin, em Pequim. "Os chineses deixaram claro que querem que a visita de Pelosi seja cancelada, mas Pequim certamente não quer um conflito militar agora", disse ele.

O fato de Xi ter seguido em frente com a ligação mostrou que pelo menos estava disposto a conversar com Biden mesmo com o aumento das tensões entre os dois países, acrescentou.

A ligação não produziria nenhum movimento em questões geopolíticas, econômicas ou climáticas, devido ao "confronto e rivalidade" que se tornou mais frágil com a perspectiva da visita de Pelosi a Taiwan, disse Shi. A atmosfera era "notavelmente pior" do que em março, quando os dois líderes falaram pela última vez, acrescentou. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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