O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou em depoimento à Polícia Federal, na investigação sobre suposta tentativa de golpe planejada por Jair Bolsonaro (PL), que foi pressionado pelo ex-presidente e por deputados do partido a entrar com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para questionar o resultado do segundo turno das eleições de 2022. "Nunca foi apresentado nada consistente", afirmou.
Valdemar foi ouvido no dia 22 de fevereiro, mas só agora o ministro Alexandre de Moraes, relator da investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), levantou o sigilo do depoimento, junto com o de outros investigados. No dia da Operação Tempus Veritatis, em 8 de fevereiro, o dirigente foi alvo de buscas, mas acabou sendo preso em flagrante por posse ilegal de arma. Ele foi solto dois dias depois.
Após a derrota de Bolsonaro, o PL pediu a anulação de todos os votos de 279,3 mil urnas eletrônicas alegando que houve "mau funcionamento" do sistema. A legenda foi multada pelo TSE em R$ 22,9 milhões por "má-fé".
Segundo Valdemar, a pressão para dar entrada no processo teve início após a divulgação do relatório produzido pelo Instituto Voto Legal, contratado pelo partido para "fiscalizar o andamento das eleições". O documento apontou supostos problemas nos modelos de urna eletrônica lançados antes de 2020, que têm um número de série único.
"Indagado se o então presidente Jair Bolsonaro insistiu com o declarante para ajuizar ação no TSE questionando o resultado das urnas eletrônicas, respondeu que, quando houve o vazamento do relatório do Instituto Voto Legal, deputados do Partido Liberal e então presidente Bolsonaro o pressionaram para ajuizar tal ação no TSE", diz um trecho do termo de depoimento.
O Instituto Voto Legal foi indicado para o PL pelo senador Marcos Pontes (PL-SP), na época ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, e recebeu R$ 1 milhão do partido. Valdemar isentou o Republicanos e o Progressistas, partidos que faziam parte da coligação com o PL nas eleições. Ele afirmou que as legendas não chegaram a ser consultadas sobre a ação no TSE e não deram autorização para a iniciativa.
Os investigadores também questionaram o motivo das visitas de Valdemar a Bolsonaro na reta final do governo. A PF acredita que reuniões tenham sido convocadas pelo então presidente para articular um plano golpista. O presidente do PL esteve pelo menos sete vezes no Palácio da Alvorada após a derrota no segundo turno, conforme registros de acesso à residência oficial.
'Luto'
Valdemar afirmou que foi checar o "estado de espírito" de Bolsonaro e que as visitas "eram sempre para tentar animar o presidente, que estava muito abatido". "Não havia fluxo de pessoas, o presidente quase não conversava com ninguém e o clima era de luto", narrou. Ele negou ter tomado conhecimento ou participado de reuniões golpistas.
Já o ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), general Estevam Theophilo, admitiu em depoimento à PF que esteve três vezes no Alvorada depois do segundo turno das eleições. O general prestou depoimento no dia 23 de fevereiro, confirmou os encontros na residência do então presidente, mas negou que tenham falado de golpe. Um dos encontros, segundo ele, foi para entregar um "presente institucional".
Mensagens apontam Theophilo como "responsável operacional" por arregimentar Forças Especiais do Exército, os "kids pretos", para prender Moraes. Em depoimento, ele disse não saber do plano.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.