Uma caminhada promovida por militantes de esquerda e que contaria com a presença do deputado federal Marcelo Freixo (PSB), pré-candidato ao governo do Rio, foi interrompida na manhã deste sábado, 16, após um tumulto com militantes de direita que estavam no local com o deputado estadual bolsonarista Rodrigo Amorim (PTB). A confusão aconteceu próximo a uma feira na praça Saenz Peña, na Tijuca, zona norte do Rio, e resultou em troca de acusações e denúncias na Polícia.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram discussões entre os dois grupos. Boletins de ocorrência foram registrados na Polícia Civil, pelos dois lados, segundo afirmaram integrantes dos dois grupos. Os adeptos de Freixo disseram que houve agressões. Amorim negou que tenha havido violência física.
Amorim registrou um boletim de ocorrência na 19ª DP (Tijuca) por injúria e difamação sem um autor definido. O caso será apurado pelo delegado Ricardo Bello Freixiela: "O declarante, residente no bairro da Tijuca, informa que estava se dirigindo para a pré-convenção do PTB, cujo local de encontro com a sua equipe era na Praça Sanes Peña, quando se deparou com a campanha antecipada do deputado Marcelo Freixo. Nesse momento, militantes de esquerda começaram a atacar o denunciante".
O professor de história e militante do PT Eduardo Coelho de Lima também registrou a ocorrência na 19ª DP. No boletim, consta que Amorim chegou à Praça Saens Pena com dez militantes. Eles teriam chamado os aliados de Freixo de "maconheiros, vagabundos, bandidos e defensores de ladrões". Nos registros não há relatos de agressões físicas.
A tensão política ocorreu uma semana após o assassinato do militante petista Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu, por um adepto do presidente Jair Bolsonaro.
Em um vídeo publicado nas redes sociais pela pré-candidata à deputada estadual Elika Takimoto (PT) é possível ver uma discussão entre Amorim e um dos militantes que participava da caminhada. Há uma troca e xingamentos entre eles. O homem não identificado diz que o assessor do deputado bolsonarista o agrediu.
Conhecido por ter, com Wilson Witzel e Daniel Silveira, quebrado em 2018 a placa com o nome de Marielle Franco, vereadora do PSOL que foi assassinada, o deputado Rodrigo Amorim também fez registro na Polícia Civil. Ele denunciou Freixo por crime contra a honra. Amorim diz que ele estava com apoiadores na Praça Saenz Peña, ponto de encontro para irem a um evento do PTB em São Cristóvão, quando uma equipe de Freixo começou a ofender sua família e a do presidente Jair Bolsonaro. O deputado também fez um registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Freixo por campanha antecipada.
"Estava a 300 metros da minha casa, em paz, com amigos, indo para um evento do PTB em São Cristóvão, quando começo a ouvir ofensas a minha família e pessoas fazendo ameaças. Já imagino que eles vão divulgar tudo ao contrário, nos xingando do que eles são. Freixo estava com seguranças armados, e seguranças que não são cedidos formalmente. Mas vamos em frente. Não posso ouvir ofensas ao presidente que tem meu apoio e do meu partido e ficar calado, já aconteceu antes e eu parti para a defesa", disse o deputado, por nota.
"Cheguei bem cedo, estava aqui desde antes das 9h. Foi bem constrangedor. A gente se concentrou em frente à praça, e quando o Marcelo Freixo chegou, a Jandira (Feghali), a gente desceu para começar a fazer nossa agenda, que era rodar na feira da Saenz Peña. A gente deu de cara com eles, que já vieram insultando a gente", narrou ao Estadão a vendedora ambulante Maria de Lourdes do Carmo, de 48 anos. "Foi falta de respeito. A gente poderia fazer a nossa pré-campanha, e eles fazerem a deles."
Maria comentou ainda que, a todo momento, militantes que estavam com Rodrigo Amorim ficavam "se coçando como se estivessem com armas na cintura".
O advogado Rodrigo Mondego, que também estava no local, publicou no Twitter que estava a caminho de uma delegacia para registrar um boletim de ocorrência. "Eu e outros militantes de esquerda estávamos em uma caminhada com o Freixo na Praça Saenz Pena quando fomos atacados por um grupo armado bolsonarista liderado pelo Dep. Rodrigo Amorim, que nos agrediu, quebrou bandeiras e nos ameaçou", escreveu Mondego.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), que estava presente na caminhada, registrou um boletim de ocorrência na 19ª DP (Tijuca) após a confusão. Nas redes sociais, ela afirmou que o grupo de Amorim rasgou bandeiras e tentou impedir os discursos deles na praça. De acordo com a Polícia Civil, o caso será conduzido pela Coordenadoria de Investigações de Agentes com Foro (Ciaf).
"Tinha um deputado estadual aqui, o Rodrigo Amorim, esse cara que tem coordenado as ações violentas na rua. Quando anunciam agenda, eles vêm atrás, para fazer provocação. Estivemos no TSE essa semana, falando com o ministro Alexandre de Moraes, para conversar sobre prevenção e punição da violência. Essa denúncia vai para o TSE e para a delegacia. Isso não pode acontecer, as pessoas têm que ter a liberdade de estarem na rua, com suas bandeiras e blusas. Hoje eles rasgaram bandeiras, tentaram impedir que a gente falasse com as pessoas, e por pouco não tem consequência pior", disse.