O adolescente Vitor Santos, de 15 anos, morreu nesta segunda-feira, em São José do Rio Preto (SP). O jovem estava internado desde 20 de junho com disganglionose intestinal, doença rara, não-hereditária e sem cura que compromete o funcionamento do intestino e impede a absorção adequada de nutrientes pelos órgãos. Desde a internação, o mundo do futebol havia se mobilizado em favor de Vitor, torcedor fanático do Santos.
O santista, que passou a sofrer com a doença aos 13 anos, media apenas 1,30m e chegou ao hospital com um peso de apenas 19kg. Por isso, foi internado direto na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital da Base, algo raro para alguém com tão pouca idade. Apesar da tristeza, foi em um ambiente tão solitário que ele conheceu a auxiliar administrativa Camila Aparecida Rodrigues Magalhães, que o ajudou a realizar desejos que pareciam distantes a um jovem de família humilde da cidade de Nova Granada, a 472 km de distância de São Paulo.
Camila, de 33 anos, se identificou de imediato com o paciente pelo fato de ela ter passado por 11 cirurgias quando era criança. "Ele tocou meu coração logo de cara. Sempre dou 'bom dia' aos pacientes que estão nos leitos da UTI e, quando conheci o Vitor, ele havia chegado de uma cirurgia no intestino. Ele estava chorando e dizia que não aguentava mais viver, não aguentava mais as dores. Pedi que ele tivesse calma e perguntei como eu poderia ajudá-lo". Eles rezaram juntos. Durante a oração, a funcionária teve a ideia de se passar por uma 'gênia da lâmpada' e dizer que o adolescente teria direito a três desejos.
O primeiro, segundo ela, foi reunir toda a família (pais, irmãos, avós, tios e primos) de Vitor para visitá-lo no jardim do Hospital da Base, em São José do Rio Preto (SP). Depois, ele quis tomar suco de laranja, o que foi possível por meio de uma gaze molhada com o líquido, pois no início do tratamento, não era possível se alimentar a não ser por uma sonda no nariz. Quando a médica responsável pelo tratamento liberou, ele pôde tomar o suco no copo. Os dois primeiros desejos, no entanto, não foram tão desafiantes quanto o último: o adolescente queria uma camisa do Santos.
MOVIMENTO CHEGOU ATÉ O TÉCNICO DA SELEÇÃO
A partir do pedido, a equipe da UTI, que já estava bastante envolvida com Vitor, se juntou em uma corrente do bem, onde cada um ajudou com indicação de contatos que pudessem fazê-los chegar até o Santos. Durante as conversas, Camila e os colegas descobriram que uma das enfermeiras chamada Thelma havia estudado com a filha de um dos massagistas do clube do litoral paulista. A amiga serviu de ponte até Valder Bernardo, que, assim que soube da história, quis organizar o envio da camisa autografada por parte do elenco, assim como a gravação de vídeos com depoimentos do técnico Fabio Carille e de jogadores, como o goleiro João Paulo, o zagueiro Gil e o atacante Willian Bigode, além de outros atletas desejando força e recuperação.
Após Vitor receber a camisa, ele ficou tão feliz que conseguiu se levantar da cama e fazer umas embaixadinhas com uma bola usada para tratamentos de fisioterapia. Segundo seus pais, Francisco e Daiane Santos, ele jogava futebol desde pequeno e precisou deixar de fazer a atividade por causa da doença.
Outra surpresa preparada para ele foi receber uma mensagem gravada pelo atual técnico da seleção brasileira, Dorival Júnior, que por duas vezes treinou o time da Baixada Santista e conquistando títulos importantes, como a Copa do Brasil de 2010. No vídeo, o treinador desejou que o jovem se recuperasse rapidamente para torcer pelo time de seu coração e pela seleção brasileira, além de mandar beijo bem grande e muita luz no caminho dele.
Vitor havia recebido alta na sexta-feira e passou o fim de semana com a família. No entanto, apresentou uma piora e veio a óbito nas primeiras horas desta segunda-feira.
CORNETEIRO ATÉ DENTRO DO HOSPITAL
Mesmo sem poder acompanhar o Santos pela televisão, Vitor deu um jeito de não se afastar das notícias do clube enquanto segue internado. Bruno, um de seus três irmãos (a única irmã faleceu há dois anos por problemas intestinais), conta que ele não pôde assistir a nenhum jogo do time nos quase três meses em que está viveu no HB, mas que a família, quase toda santista, o mantinha informado.
"A maioria dos jogos da Série B passam em TV a cabo e lá ele não tem acesso para assistir. Eu acompanho o Santos e aviso ele dos resultados por meio de ligações que minha mãe faz quando vai visitá-lo. Quando o time empatou dentro de casa em 0 a 0 com o Amazonas, na 23ª rodada, falei para ele que não estamos jogando nada e havíamos perdido a liderança da Série B. Ele ficou muito bravo".
Francisco, que é mecânico em Nova Granada, herdou a paixão alvinegra do pai, Osvaldino. Seu Dino, como é conhecido, acompanhou a fase áurea dos Santos nos anos 1950 e 1960, além do time que tinha Pelé como sua principal estrela. Já o filho assistiu à formação de elencos com o meia Giovani, além da geração de Diego e Robinho, Neymar e Ganso, e a boa fase entre os anos 1990 e início dos 2000 acabou influenciando boa parte da família a seguir os passos deles na paixão futebolística.