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Quais Estados tiveram maior queda de IDH após a pandemia?

Estadão Conteúdo
28/05/2024 às 14:47.
Atualizado em 28/05/2024 às 14:52

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil e de muitos outros países caiu durante a pandemia de covid-19 e esta queda não se deu de forma homogênea entre os municípios e Estados. Um relatório divulgado nesta terça-feira, 28, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) revela quais Estados brasileiros tiveram maior queda no IDH Municipal entre 2019 e 2021 e qual o nível de desigualdade de gênero e raça (neste caso, especificamente entre brancos e negros).

- Os valores apresentados pelo PNUD consideram o IDH Municipal (IDHM), uma metodologia adaptada do IDH que estima não só os níveis de longevidade, taxa de escolaridade e renda da população, como também a qualidade de vida da população e a garantia ao acesso ao conhecimento e à saúde naquela região.

O estudo mostra que todos os Estados brasileiros tiveram queda no IDHM no período da pandemia, mas alguns conseguiram minimizar os danos. E estes não foram, necessariamente, os que tinham maior recurso financeiro.

"Estados que foram capazes de construir consensos em torno de agendas de políticas públicas para debelar e para lidar com as dificuldades da covid-19 tiveram, pela leitura do IDH, um desempenho diferenciado e mais positivo do que outros", afirma o representante residente do PNUD no Brasil, Claudio Provida.

Prova disso é que o Estado com pior IDHM no País até a pandemia, o Maranhão, teve queda no índice inferior à do Distrito Federal, que é considerado muito desenvolvido (-2,6% e -5,2%, respectivamente). Segundo Provida, houve boa gestão do Maranhão sobre a crise do coronavírus.

"Não é uma questão de dinheiro, de orçamento, de gastos públicos. Às vezes, com boa governança, liderança, políticas, boas institucionalidades, pode-se realmente ter um aceleramento no desenvolvimento humano", diz.

Alagoas e Sergipe tiveram o melhor desempenho, com baixa de apenas 0,4%. Já o Amapá e Roraima tiveram as piores queda, de 6,6% e 6,7%, respectivamente. Dos seis Estados que tinham IDH considerado "muito alto" em 2019, só dois mantiveram o posto: São Paulo e Distrito Federal.

O número de Estados com IDHM considerado "médio" subiu de dois para sete. As regiões Norte e Nordeste foram as mais impactadas.

Brasil teve retrocesso de 2,4% entre 2019 e 2021

Considerando o IDHM brasileiro, total, houve progresso de 5,2% entre 2012 e 2019, mas retração de 2,4% de 2019 para 2021. Isso fez com que o Brasil fechasse o ano de 2021 com um IDHM de 0,766, valor apenas 2,7% maior que em 2012 (0,746).

Para Betina Ferraz, economista do PNUD responsável pelo estudo, os dados evidenciam que o Brasil viveu dois tempos muito bem definidos em relação ao seu desenvolvimento humano no período entre 2012 e 2021.

Primeiro, "uma trajetória vitoriosa" do Brasil em termos de conquistas nas áreas de educação, saúde e renda. Depois, com a chegada da covid-19, há uma "quebra de tendência": a necessidade de lidar com o momento de crise abate exatamente essas áreas.

"No primeiro momento, ela se dá fortemente na dimensão saúde, porque é uma crise sanitária, mas num segundo momento ela ceifa a possibilidade de geração de renda e, também, a dimensão da educação, com as escolas fechadas e com todo esse conjunto educacional brasileiro prejudicado", afirma Betina.

O valor do IDH, medido em uma escala de 0 a 1, é calculado com base em três indicadores: longevidade, nível de escolaridade e renda da população. No caso do Brasil, os valores de longevidade contribuem para um IDH de médio a alto. Desde 2012, eles estão acima de 0,8.

Olhando para os indicadores de educação, renda e longevidade de maneira isolada, é possível ver que, entre 2012 e 2019, houve avanço considerável nos dois últimos, resultando em um aumento no IDHM. Mas durante a pandemia, as três áreas foram afetadas - especialmente a terceira.

Qual é a diferença por sexo e entre negros e brancos?

Outro ponto importante do relatório, na visão de Betina e Provida, é que ele coloca luz sobre a desigualdade por sexo e raça - neste caso, foram medidas as diferenças entre a população branca e a negra (pretos e pardos). O ritmo de diminuição da desigualdade entre o IDHM de brancos e negros é lento ao longo da década estudada, o que mostra baixa efetividade nos programas de equidade.

"O relatório aponta que a desigualdade entre brancos e negros, para ser arrefecida no Brasil, pelo padrão de crescimento do IDH, necessitaria 10 mandatos presidenciais, ou seja, 35 anos", aponta Provida. "Há uma composição em extratos da sociedade que revelam um Brasil muito mais frágil. E esse Brasil mais frágil, mais vulnerável, onde se encontra? Em domicílios chefiados por negros", diz Betina.

De acordo com a economista do PNUD, a fragilidade por raça é acentuada, ainda, quando esses domicílios são chefiados por mulheres negras. "São nesses que nós encontramos padrões de desenvolvimento humano com mais vulnerabilidade. Ou seja, menos níveis educacionais, menos acesso à renda, esperança de vida mais baixa, níveis educacionais mais baixos também. Então, essa é uma preocupação nossa."

Apesar de o IDHM das mulheres ser superior ao dos homens - principalmente por elas terem, em geral, maior longevidade e tempo de escola -, são elas as mais vulneráveis em relação à renda, o que impacta diretamente o desenvolvimento das pessoas de famílias chefiadas exclusivamente por elas.

As mulheres têm maior chance de perder o emprego em momentos de crise, como o da pandemia, aponta o estudo. Isso porque tendem a trabalhar em setores com maior oscilação, como o de varejo, turismo e atendimento ao público e são, culturalmente, responsáveis pelos cuidados familiares.

Quando alguém fica doente ou as crianças deixam de ir para a escola, como ocorreu no período da covid-19, são as mulheres que têm que largar o emprego para se dedicar aos cuidados em casa. E quando não há um homem para complementar a renda, a situação se agrava, gerando queda nos indicadores de desenvolvimento.

Qual é o indicador por regiões metropolitanas?

A região metropolitana de São Paulo tem o maior IDHM, com 0,842 pontos, seguida de Florianópolis (0,833) e Curitiba (0,81). Já as com menor desenvolvimento humano são Maceió (0,717), Manaus (0,711) e Macapá (0,695).

A desigualdade por cor e sexo também se dá regionalmente, pelo mesmo motivo citado por Provida: o impacto da gestão pública sobre os indicadores regionais, mas também pelo tipo de atividade local. Estados com IDHM mais baixo, população mais pobre e oportunidades de trabalho (e renda) mais homogêneas tendem a ter menor desigualdade entre negros e brancos.

Já em regiões metropolitanas mais ricas, onde a disparidade de renda é maior, a desigualdade por cor fica mais evidente. Além de a renda ser, por si só, um indicador do IDHM, ela impacta no nível de escolaridade e no acesso à saúde e longevidade daquele grupo social.

Enquanto São Paulo e Florianópolis têm uma discrepância maior no IDHM entre negros e brancos (0,085 e 0,081 pontos de diferença, respectivamente), Teresina e Alagoas têm uma diferença racial menor (0,052 e 0,051 pontos).

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