O PT aprovou nesta sexta-feira, 8, o texto-base de uma resolução política com críticas ao Centrão, grupo de partidos que fez aliança com o governo Lula, e ataques à meta de déficit zero para 2024, chamada de "austericídio fiscal". A versão preliminar do documento foi antecipada pelo Estadão.
A resolução que passou pelo crivo do Diretório Nacional foi produzida pela corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), tendência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e receberá emendas nos próximos dias. Dessa forma, a ofensiva na direção do Centrão e da política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda pode ser amenizada.
"As forças conservadoras e fisiológicas do chamado Centrão, fortalecido pela absurda norma do orçamento impositivo num regime presidencialista, exercem influência desmedida sobre o Legislativo e o Executivo, atrasando, constrangendo e até tentando deformar a agenda política vitoriosa na eleição presidencial", diz um trecho do documento aprovado.
Apesar de não citar explicitamente a meta fiscal para 2024, a resolução não deixa dúvidas sobre as divergências da cúpula do PT com Haddad.
"O Brasil precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC 'independente' e do austericídio fiscal, ou não teremos como responder às necessidades do país", afirma o texto.
Em mais de uma ocasião, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também já havia dito que era um erro apresentar uma meta de déficit zero para 2024, em um momento de frustração de receitas, porque isso significava cortar investimentos e programas sociais.
Durante a reunião, o líder do PT na Câmara, deputado Zeca Dirceu (PR), argumentou que o governo depende da aliança com o Centrão para aprovar vários projetos em tramitação na Casa, como a reforma tributária e a Medida Provisória das subvenções. Zeca argumentou que, nesse cenário, não seria prudente o PT atacar o grupo que tem como expoente o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL).
Houve, porém, muitas críticas a partidos que apoiaram o então presidente Jair Bolsonaro, ganharam ministérios no governo Lula, mas nas eleições municipais de 2024 estarão na campanha de candidatos bolsonaristas.
"A base aliada participa do governo, não assume o governo integralmente e, quando chegar a eleição, pode estar contra nós. Dias atrás, eu fiquei estarrecido: vi líderes de partidos da base (de Lula) no palanque do candidato do Bolsonaro. Isso não pode", protestou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), na reunião do Diretório Nacional.
O deputado se referia ao lançamento da candidatura de Alexandre Ramagem (PL) à prefeitura do Rio. Diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na gestão Bolsonaro e amigo da família do ex-presidente, Ramagem contou com integrantes do PP, União Brasil, MDB e Republicanos - partidos da base aliada de Lula - no palanque de lançamento de sua candidatura.
A portas fechadas, Guimarães afirmou, ainda, que o PT corre risco de sofrer derrotas nas próximas eleições se deixar os aliados fazerem o que bem entendem. "Subir em palanque com gente que não vai estar conosco em 2026 não é o caminho", advertiu. "Nós temos de ter uma política ampla de alianças, mas também precisamos cuidar do PT."