O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, confirmou nesta quinta-feira, 29, o nome de Luis Caputo como ministro da Economia, no governo que assume em 10 de dezembro. Caputo é aliado do ex-presidente Mauricio Macri e já dirigiu o Banco Central da República Argentina (BCRA). Milei se referiu a ele como titular da pasta durante uma entrevista à rádio Mitre, pouco após voltar de uma viagem aos EUA.
Na conversa, Milei comentou sobre a rápida passagem por Washington, onde ele esteve acompanhado de sua equipe, entre eles Caputo. Ele disse que teve uma reunião "excelente" com o Departamento do Tesouro americano, com a presença do "ministro da Economia, Luis Caputo", e do futuro chefe de gabinete, Nicolás Posse.
Considerando as propostas radicais de Milei, Caputo pode ser considerado um moderado. Retratado como o "Messi das finanças" pelo cientista político macrista Marcos Peña, Caputo é contra a dolarização, prometida pelo presidente eleito na campanha, que é criticada por grande parte dos economistas, tanto em razão da falta de dólares como devido ao país abrir mão de sua política monetária.
Durante a presidência de Macri, Caputo trabalhou na unificação das diferentes taxas de câmbio que existiam, um problema que se repete agora. O economista foi responsável, em 2017, por parte das negociações com os fundos abutres (credores que compraram papéis "podres" da dívida argentina e não aceitaram as reestruturações dos anos 2000).
Experiência
Caputo deixou o Ministério da Economia, em 2018, para comandar o BCRA, após a renúncia de Federico Sturzenegger, com quem Caputo tem uma relação difícil. Sturzenegger também era cotado para assumir a Economia, mas a experiência de Caputo com as Lebacs pode ter pesado na escolha.
As Lebacs (Letras do Banco Central) eram dívidas emitidas pelo BCRA usadas para absorver pesos do mercado e ajudar a segurar a inflação. Como o governo tinha déficit fiscal e emitia moeda para financiá-lo, ele vendia as Lebacs a bancos e retirava parte do excesso de dinheiro em circulação. Hoje, a Argentina passa por um problema parecido.
Caputo tem fortes relações com Macri, que teve um governo marcado por forte endividamento e crise econômica. Sua indicação mostra o reconhecimento de Milei da importância que o ex-presidente teve no segundo turno da eleição presidencial e no futuro apoio de sua base parlamentar, que pode facilitar a governabilidade - o partido do presidente eleito elegeu apenas 38 de 257 deputados e apenas 7 de 72 senadores.
O futuro ministro também trabalhou no banco de investimentos JPMorgan, em Nova York, e comandou o Deutsche Bank, na Argentina, o que lhe assegurou uma boa interlocução com o mercado financeiro e pode ser considerado um trunfo nas negociações com os credores internacionais.
Brasil
Milei também afirmou ontem que manterá o peronista Daniel Scioli como embaixador no Brasil. A confirmação é mais um sinal de moderação e indica disposição para manter boas relações diplomáticas com o governo Lula, após uma série de críticas ao presidente brasileiro durante a campanha.
Scioli assumiu a embaixada em Brasília indicado pelo atual presidente, Alberto Fernández, em 2020, durante o mandato de Jair Bolsonaro. Sua permanência no posto era especulada na imprensa argentina desde o encontro, no domingo, do chanceler do Brasil, Mauro Vieira, com Diana Mondino, que assumirá a chefia da diplomacia de Milei. "A ideia é que, por enquanto, ele (Scioli) continue nessa tarefa", disse o presidente eleito, em entrevista à rádio La Red. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS; COLABOROU LUCIANA DYNIEWICZ)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.