Uma das estratégias do candidato Pablo Marçal (PRTB) para fazer com que seus concorrentes à Prefeitura de São Paulo percam votos é confundir eleitores "distraídos" sobre o número dos candidatos na urna, observam analistas ouvidos pelo Broadcast Político. Até o momento, Tabata Amaral (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL) foram os alvos preferenciais do ex-coach.
Nesta segunda-feira, 23, a deputada federal ganhou direito de resposta nas redes sociais do influenciador após o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) entender que Marçal publicou um vídeo com conteúdo sabidamente inverídico e com intuito de confundir. No vídeo, o candidato afirmou que o número de Tabata era 13, referente ao Partido dos Trabalhadores (PT).
Em outra ocasião, o ex-coach tentou aplicar a mesma estratégia contra Boulos. No debate da TV Gazeta, em parceria com o canal My News do YouTube, Marçal relacionou com deputado federal o número do partido do presidente Lula (PT) em suas considerações finais. "Se você somar o 15 do 'bananinha' (em referência ao prefeito emedebista Ricardo Nunes) e o 13 do 'Boules' (em ironia pejorativa com o uso da chamada linguagem neutra) dá 28", afirmou o candidato promovendo o seu número na urna.
De acordo com o Datafolha publicado na última quinta-feira, 19, o maior número de menções incorretas ao número do candidato é entre eleitores do psolista, sendo 13%. O segundo lugar nesse quesito é justamente de Tabata, com 10% de equívoco entre seu público.
Para o cientista político e professor do Insper Carlos Melo, a intenção do ex-coach é confundir eleitor "distraído" na hora de votar. "É o eleitor que não leva em conta ou não está atento à política que cai nesse tipo de pegadinha", explica Melo.
Nesse sentido, há um fato relevante que ocorreu no Estado de São Paulo nas eleições de 2022. Cerca de 520 mil pessoas votaram no número 22 para governador e esses votos acabaram sendo contabilizados como nulos. O erro ocorreu porque o candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era Tarcísio de Freitas, filiado ao partido Republicanos, cujo número de urna é 10, e não 22, que era o do ex-capitão.
"Trata-se de uma estratégia baseada no discurso de consumo rápido, fácil e populista", diz o cientista político e professor da Universidade Federal de Santa Catarina Daniel Pinheiro. "Quando se faz essa confusão numérica, retira-se do eleitor a chance de tomar a decisão coerente com a sua vontade", pontua.
Em seu direito de resposta, a deputada federal salientou as suas diferenças entre ela e o PT. No entanto, essa não é uma forma de combate eficaz para o cientista político. "O direito de resposta é correto no sentido de formalização, mas não é tão efetivo quanto o discurso rápido de desinformação", afirma Pinheiro. "Estratégias desse tipo têm que ser desencorajadas de maneira enfática para não serem normalizadas."