O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou ontem da inauguração das instalações da Eletra - Tecnologia de Tração Elétrica, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Companhia do setor de transporte público com produção de ônibus elétricos, a fábrica tem como um dos donos um empresário que já confessou pagamento de propinas ao PT no passado.
João Antonio Setti Braga, sócio da Eletra, foi personagem em um dos primeiros casos de denúncias de corrupção em gestões petistas, antes de Lula ser eleito pela primeira vez, em 2002. Em julho daquele ano, em período de campanha presidencial, ele prestou depoimento à comissão parlamentar de inquérito criada na Câmara Municipal de Santo André para investigar o pagamento de propinas a agentes da gestão Celso Daniel (PT), morto em janeiro daquele ano.
O empresário admitiu ter feito pagamentos de R$ 2,5 milhões em valores da época a secretários do então prefeito. Setti Braga chegou, durante o depoimento, a especular se Celso Daniel teria sido assassinado por "queima de arquivo" - o que nunca foi comprovado pelas autoridades responsáveis pela investigação.
CONGRESSO
Esta versão foi endossada anos depois, quando o empresário a reiterou à CPI dos Bingos no Congresso Nacional, que ficou conhecida por apurar esquemas que ligavam políticos à máfia de caça níqueis ligada ao contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Os fatos envolviam uma outra empresa de viação da família.
Lula participou de uma conversa breve com executivos do grupo. A irmã de Setti Braga, Maria Beatriz - sua sócia na companhia -, participou da reunião com o presidente. Por motivos de saúde, segundo uma fonte ligada à diretoria da Eletra, Setti Braga não estava presente. O petista ganhou miniatura do ônibus da Eletra. Lula disse que Maria Beatriz é pioneira no setor de veículos elétricos, destacando conhecê-la há 20 anos.
A conversa se deu na fábrica, após o evento de inauguração de laboratórios da Universidade Federal do ABC (UFABC), no câmpus de São Bernardo do Campo. Durante o encontro, em uma garagem da fábrica, Lula foi convidado a dar uma pequena volta pela empresa em um de seus ônibus.
O Estadão procurou Setti Braga por meio da assessoria de imprensa da Eletra, que não havia se pronunciado até as 21h de ontem.