Depois de atender a Polícia Federal (PF) e autorizar a operação aberta na semana passada contra oito empresários bolsonaristas, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu um parecer interno do próprio gabinete. Ele quis uma análise detalhada sobre os pontos de convergência entre os inquéritos das fake news e das milícias digitais e as suspeitas que recaem sobre os empresários. O foco foi o possível "financiamento" de notícias falsas e ataques antidemocráticos.
O juiz Ailton Vieira, instrutor no gabinete do ministro, foi o responsável pela redação do documento que tem 121 páginas. O magistrado defendeu o aprofundamento da investigação sobre a conduta dos empresários e viu conexão com os demais inquéritos que fecharam o cerco contra aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Há efetiva participação de pessoas físicas, muitas delas empresários, que integravam o grupo de WhatsApp denominado 'Brasil 200 Empresarial' e que agora integram o grupo de WhatsApp 'Empresários & Politica', fomentando e incentivando, por meio de aporte financeiro, inúmeras manifestações antidemocráticas", diz um trecho do parecer.
O documento diz que, até o momento, as suspeitas mais contundentes são contra os empresários Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, e Afrânio Barreira Filho, do restaurante Coco Bambu. Com base no quadro geral das investigações em curso, o juiz avalia que eles podem ter ajudado a custear a produção e a divulgação de notícias fraudulentas e a organização de manifestações antidemocráticas. Ambos negam financiamento de atos ilícitos e se dizem vítimas de perseguição por serem aliados do presidente.
O parecer cita especificamente as manifestações que ocorreram no feriado de 7 se Setembro de 2021, quando o presidente chegou a ameaçar descumprir ordens do STF; e em 19 de abril de 2020, Dia do Exército, quando manifestantes de reuniram em Brasília para pedir a volta da ditadura militar. O juiz menciona ainda os ataques espalhados nas redes sociais contra instituições e opositores do governo e as notícias falsas sobre a pandemia. Também sugere possível ligação entre os empresários e o chamado "gabinete do ódio".
"A questão de se apurar o financiamento demonstrou-se de vital importância nas investigações realizadas pela Polícia Federal, indicando, inclusive, a criação - pelos próprios investigados - de uma verdadeira 'rede financeira' a redor da produção e propagação do discurso de ódio, ataques aos Poderes de Estado e instituições e tentativa de rompimento da Democracia e do Estado de Direito, com movimentação atípica de valores", escreveu o magistrado.
Os empresários que foram alvo da operação fazem parte de um grupo de WhatsApp e conversaram abertamente sobre um golpe caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja eleito. As mensagens foram reveladas pelo portal Metrópoles. Na avaliação do juiz, as conversas não poderiam ser ignoradas, sobretudo em razão da proximidade de mais um 7 de Setembro.
Vieira defendeu o "cruzamento de dados e verificação de relação com as condutas já identificadas" em outras investigações.
"Notadamente em razão da verificação de absoluta semelhança entre o 'modus operandi' de agir dos investigados e da possível correspondência deles ao 'núcleo de financiamento' das condutas, as quais guardam similitude cor outras já observadas em outros procedimentos investigatórios que tramitam nesta Corte e contemplam empresários que já estavam sendo investigados anteriormente, em especial Luciano Hang, que se viu, desde sempre, apontado como um dos empresários financiadores dessas práticas consistentes na divulgação de 'fake news' sistematicamente voltadas para o ataque às instituições do Supremo Tribunal Federal e dos seus ministros, dentre outras", defendeu o juiz instrutor do gabinete de Moraes.