O Irã está acelerando as atividades online que parecem ter a intenção de influenciar as eleições americanas, visando a uma campanha presidencial com ataques cibernético por e-mail para coletar informações confidenciais, disse a Microsoft na sexta-feira 9.
Os iranianos também passaram os últimos meses criando sites de notícias falsas e se fazendo passar por ativistas, preparando o terreno para fomentar a divisão e potencialmente influenciar os eleitores americanos neste outono, especialmente em Estados decisivos, afirma a gigante da tecnologia.
As descobertas do mais novo relatório de inteligência de ameaças da Microsoft mostram como o Irã, que tem estado ativo nas recentes eleições dos EUA, está evoluindo suas táticas para outra eleição que provavelmente terá implicações globais.
O relatório vai um passo além de tudo o que as autoridades de inteligência dos EUA divulgaram, dando exemplos específicos de grupos iranianos e as ações que eles tomaram até agora. A missão do Irã nas Nações Unidas negou que tivesse planos de interferir ou lançar ataques cibernéticos na eleição presidencial dos EUA.
O documento não especifica as intenções do Irã além de semear o caos nos Estados Unidos, embora as autoridades americanas tenham dado a entender anteriormente que o Irã se opõe particularmente ao ex-presidente Donald Trump. As autoridades dos EUA também expressaram alarme sobre os esforços de Teerã para buscar retaliação por um ataque de 2020 a um general iraniano que foi ordenado por Trump.
Esta semana, o Departamento de Justiça dos EUA divulgou acusações criminais contra um paquistanês com vínculos com o Irã que supostamente planejou assassinato de várias autoridades, incluindo potencialmente Trump.
O relatório também revela como a Rússia e a China estão explorando a polarização política dos EUA para promover discursos de divisão em um ano eleitoral decisivo.
Casos encontrados pela Microsoft
O relatório da Microsoft identificou quatro exemplos de atividades iranianas recentes que a empresa espera que aumentem à medida que a eleição de novembro se aproxima.
Primeiro, um grupo ligado à Guarda Revolucionária do Irã, em junho, atacou um funcionário de alto escalão da campanha presidencial dos EUA com um e-mail de phishing, uma forma de ataque cibernético geralmente usada para coletar informações confidenciais, de acordo com o relatório, que não identificou qual campanha foi visada.
O grupo ocultou as origens da mensagem, enviando-o a partir da conta de e-mail hackeada de um ex-conselheiro sênior, disse a Microsoft.
Dias depois, o grupo iraniano tentou entrar em uma conta que pertencia a um ex-candidato à presidência, mas não obteve sucesso, segundo o relatório da Microsoft. A empresa notificou aqueles que foram alvos.
Em um exemplo separado, um grupo iraniano tem criado sites que se fazem passar por sites de notícias sediados nos EUA, direcionados a eleitores de lados opostos do espectro político, segundo o relatório.
Um site de notícias falsas que se presta a um público de esquerda insulta Trump, chamando-o de "louco" e sugerindo que ele usa drogas, segundo o relatório. Outro site destinado a atrair leitores republicanos se concentra em questões LGBTQ e cirurgia de afirmação de gênero.
Um terceiro exemplo citado pela Microsoft revelou que grupos iranianos estão se passando por ativistas americanos, potencialmente preparando o terreno para operações de influência mais próximas da eleição.
"O Irã não tem a intenção nem planos de lançar ataques cibernéticos. A eleição presidencial dos EUA é um assunto interno no qual o Irã não interfere", diz Missão do Irã na ONU.
Por fim, outro grupo iraniano comprometeu, em maio, uma conta pertencente a um funcionário do governo em um Estado de eleição, segundo o relatório. Não ficou claro se esse ataque cibernético estava relacionado aos esforços de interferência eleitoral.
A missão do Irã na ONU enviou à Associated Press uma declaração por e-mail: "O Irã tem sido vítima de inúmeras operações cibernéticas ofensivas que têm como alvo sua infraestrutura, centros de serviços públicos e indústrias. As capacidades cibernéticas do Irã são defensivas e proporcionais às ameaças que enfrenta. O Irã não tem a intenção nem planos de lançar ataques cibernéticos. A eleição presidencial dos EUA é um assunto interno no qual o Irã não interfere."
Outros ataques
O relatório da Microsoft disse que, à medida que o Irã aumenta sua influência cibernética, os agentes ligados à Rússia também direcionaram suas campanhas de influência para se concentrarem nas eleições dos EUA, enquanto os agentes ligados ao Partido Comunista Chinês aproveitaram os protestos universitários pró-palestinos e outros eventos atuais nos EUA para tentar aumentar as tensões políticas dos EUA.
A Microsoft disse que continua a monitorar como os inimigos estrangeiros estão usando a tecnologia de IA generativa. As ferramentas, cada vez mais baratas e de fácil acesso, podem gerar imagens, fotos e vídeos falsos e realistas em segundos, o que gera a preocupação de alguns especialistas de que elas serão usadas como armas para enganar os eleitores neste período eleitoral.
Embora muitos países tenham experimentado a IA em suas operações de influência, disse a empresa, esses esforços não tiveram muito impacto até agora. O relatório disse que, como resultado, alguns atores "voltaram a usar técnicas que se mostraram eficazes no passado, como manipulações digitais simples, descaracterização de conteúdo e uso de rótulos ou logotipos confiáveis sobre informações falsas".
O relatório da Microsoft se alinha com as advertências recentes das autoridades de inteligência dos EUA, que dizem que os adversários dos Estados Unidos parecem determinados a semear a internet com declarações falsas e incendiárias antes da votação de novembro.
As principais autoridades de inteligência disseram no mês passado que a Rússia continua a representar a maior ameaça quando se trata de desinformação eleitoral, enquanto há indícios de que o Irã está expandindo seus esforços e a China está agindo com cautela quando se trata de 2024.
Os esforços do Irã parecem ter como objetivo minar os candidatos vistos como mais propensos a aumentar a tensão com Teerã, disseram as autoridades. Essa é uma descrição que se encaixa em Trump, cujo governo encerrou um acordo nuclear com o Irã, reimpôs sanções e ordenou a morte do principal general iraniano.
Os esforços de influência também coincidem com um período de altas tensões entre o Irã e Israel, cujos militares são fortemente apoiados pelos EUA.
A diretora da Inteligência Nacional, Avril Haines, disse no mês passado que o governo iraniano apoiou secretamente os protestos americanos contra a guerra de Israel contra o Hamas em Gaza. Grupos ligados ao Irã se fizeram passar por ativistas on-line, incentivaram protestos e forneceram apoio financeiro a alguns grupos de protesto, disse Haines.
Os inimigos dos Estados Unidos, entre eles o Irã, têm um longo histórico de tentativa de influenciar as eleições americanas. Em 2020, grupos ligados ao Irã enviaram e-mails para eleitores democratas em um aparente esforço para influenciar seus votos, disseram autoridades de inteligência./Associated Press