Economia

Ibovespa pode destravar e ir a 145 mil pontos; ruídos e juros são risco, diz Ferreira, da XP

Estadão Conteúdo
07/07/2024 às 09:01.
Atualizado em 07/07/2024 às 09:08

O avanço da pauta econômica do governo e a sinalização de corte de gastos no Orçamento de 2025 pode ajudar a destravar o Ibovespa, mas não muda a expectativa de que o índice terminará este ano em 145 mil pontos, afirmou o estrategista-chefe e head do Research da XP Investimentos, Fernando Ferreira. "Não altera [a projeção], mas ajuda a destravar valor dos ativos locais, incluindo a Bolsa, que vinham muito pressionados", disse ele em entrevista ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).

Nesta semana o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a manutenção do arcabouço fiscal e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite de quarta-feira, 4, uma redução de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias para 2025.

No entanto, antes disso, os ativos brasileiros - principalmente no mercado de câmbio e de juros futuros - sofria com uma onda de ruídos políticos, que pioram a condução da política monetária e põem pressão sobre o Banco Central, diz Ferreira.

Segundo ele, o processo consistente de alta do Ibovespa e de retomada do investimento estrangeiro dependerá do nível dos juros. Por ora, a corretora mantém a expectativa de Selic em 10,50% ao ano até o fim de 2025, com risco de a taxa ficar acima disso.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

O anúncio do corte de despesas deve estimular o Ibovespa, a ponto de a XP mudar sua projeção de 145 mil pontos no final deste ano?

Não altera, mas ajuda a destravar valor dos ativos locais, incluindo a Bolsa, que vinham muito pressionados.

O que sustenta a estimativa de Ibovespa aos 145 mil pontos no fim de 2024?

As empresas estão reportando bons resultados no geral, o nível de alavancagem está bem adequado e há bons pagamentos de dividendos. Vemos a Bolsa barata. As ações estão baratas, no mesmo nível da crise de 2008 [crise financeira internacional] e abaixo inclusive do visto em meados de 2015, durante a gestão Dilma [Rousseff]. Isso mostra que as empresas estão gerando resultados, mas fatores macroeconômicos têm pesado. Se os juros começarem a subir, vai pesar no valuation do Ibovespa. Os problemas que vimos foram principalmente da ordem macro e política.

As dúvidas internacionais influenciaram mais o desempenho do Ibovespa no primeiro semestre - o pior em quatro anos?

Os pontos que pesaram no Ibovespa no primeiro semestre foram o cenário externo, principalmente o fato de o Fed não ter iniciado o corte de juros. No início do ano, o mercado esperava seis cortes e depois isso foi reprecificado. O Brasil seria um dos mais beneficiados, pois já tinha começado a cortar os juros. A expectativa era de que a Selic chegaria em torno de 8,00%, 9,00% no final deste ano. E isso seria positivo para os ativos do Brasil. Como não aconteceu, vemos saída grande de investimento estrangeiro, influenciado ainda por outros problemas domésticos como fiscal, monetário, risco de maior intervenção nas empresas, seja diretamente ou por tributação.

Se esses ruídos de fato forem eliminados, o Ibovespa tende a adotar tendência de alta?

Na nossa visão, para a Bolsa destravar é justamente o cenário macro ajudar. O primeiro semestre foi desafiador aqui e no exterior. No segundo semestre, se as nuvens se dissiparem, deveríamos ver o mercado de ações se recuperando, e é isso que nos mantém otimistas apesar de tudo. O Brasil por ser um emergente de maior risco, pode performar muito bem depois que houver o corte de juros do Fed. O Ibovespa em dólar pode até superar o S&P.

E se o banco central dos Estados Unidos não iniciar o processo de afrouxamento monetário neste ano?

Se o Fed não conseguir cortar, se os dados de inflação continuarem elevados e se a economia não desacelerar como o esperado, sem dúvida terá impacto no Brasil tanto por meio de fluxo como em relação ao sentimento no próprio BC. A Selic deve parar em 10,5% e há o desafio de reancorar as expectativas de inflação. A válvula de escape acaba sendo o câmbio. Mais depreciação afeta as expectativas, ainda que a inflação corrente esteja bem. O ruído político, de fato, piora a condução da política monetária e põe pressão no BC. Vemos esse descolamento entre a mensagem do Banco Central, as expectativas do mercado e a curva de juros.

O Brasil já foi tido como o 'queridinho' entre os emergentes. Só que no primeiro semestre o Ibovespa perdeu 19,80%. Ainda há interesse considerável pelo Brasil?

No começo do ano o Brasil era overweight. Hoje o cenário de emergentes como um todo está balanceado. O Brasil poderia voltar a atrair fluxo, o que precisa é controlar os ruídos internos. Se o mercado de renda fixa e de câmbio se acalmar, os investidores podem voltar. Já temos visto alguns ingressos de estrangeiro, não sei se é tendência, mas paramos de ver aquelas vendas fortes. Estive recentemente em Londres e ouvi que o nível de preços está chamando bastante a atenção, que os investidores querem olhar para o Brasil. O que estamos vendo no mercado [de câmbio] não é fato isolado do Brasil. No último mês, o real teve o pior desempenho entre os emergentes, mas também houve depreciação similar do peso mexicano e colombiano. Com esse câmbio, o debate é se o BC voltará ou não a subir os juros.

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