O Ministério de Minas e Energia passou a procurar um outro nome para o conselho de administração da Petrobras depois que o empresário Rodolfo Landim comunicou, na madrugada deste domingo, 3, que decidiu recusar a indicação para presidir o colegiado. De acordo com a pasta, a nova indicação será avaliada com a "responsabilidade que a situação requer".
Landim havia sido indicado para o cargo em 28 de março, junto com o nome do economista Adriano Pires para a presidência da estatal. Em carta endereçada ao ministério, Landim, que também é presidente do Flamengo, afirma que, "apesar do tamanho e da importância da Petrobras para o nosso País, e da enorme honra para mim em exercer este cargo", decidiu abrir mão da indicação e concentrar-se na administração do time.
"Entendo que existiria um risco considerável, caso fosse conduzido à presidência do conselho da Petrobras, de não conseguir exercer ambas as funções com a excelência por mim desejada e à altura que a Petrobras e o Flamengo merecem", escreveu.
Ex-funcionário de carreira da Petrobras, ele presidiu a antiga BR Distribuidora (agora Vibra Energia), de 2003 a 2006, no governo Lula. Deixou a estatal para assumir cargos de liderança nas empresas do Grupo X, de Eike Batista, com quem tem uma longa rixa, inclusive na Justiça. Em carreira solo, criou sua própria petrolífera, a Ouro Preto, vendida em 2020.
A desistência de Landim elevou ainda mais a temperatura em torno da troca de comando na Petrobras, depois que o presidente Jair Bolsonaro demitiu o general da reserva Joaquim Silva e Luna da presidência da estatal. É que Pires, indicado para o cargo, já tem seu nome contestado pelo Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) por suposto conflito de interesses.
Em representação, o subprocurador-geral do MP-TCU Lucas Rocha Furtado afirmou ter identificado problemas, "tendo em vista sua (de Pires) atuação na iniciativa privada, a lançar dúvidas sobre a possibilidade ética e legal de vir a assumir a presidência da Petrobras". Segundo Furtado, Pires "mantém relações econômicas de caráter privado com diversas empresas nacionais e internacionais que se relacionam com a Petrobras, inclusive concorrentes diretas da estatal no mercado internacional".
Entre as questões para que o economista seja efetivado no cargo, estaria a necessidade de desligamento compulsório do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), empresa que é comandada por seu filho, Pedro Pires. A legislação brasileira é clara ao dizer que um executivo da estatal não pode ter parentesco com outra pessoa que atue no mercado e que possa ser considerado um concorrente.
Além disso, também há a relação da CBIE com empresas dos setores de energia e óleo e gás. Entre elas, a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), que tem como associadas empresas concessionárias dos serviços de distribuição de gás canalizado, e grandes empresas como Exxon Mobil, Shell, Braskem, Chevron, Ipiranga, CPFL Energia, Eneva, Engie e outras de diferentes segmentos.
'Trâmites legais'
O Ministério de Minas e Energia afirmou que, desde a semana passada, Pires está cumprindo os "trâmites legais e administrativos" exigidos para a proposição do seu nome à Assembleia Geral Ordinária, marcada para o próximo dia 13. "Temos de aguardar todas essas análises e, se tiver algum óbice, se pode ser superado", informou a pasta. Procurado ontem, o economista não retornou às chamadas até a conclusão desta edição.
Depois de contar com um presidente das Forças Armadas, o general Silva e Luna, o governo buscava de volta um nome do mercado para as presidências da estatal e de seu conselho. Luna e seu antecessor, Roberto Castello Branco, acabaram saindo da empresa justamente por divergências com o Palácio do Planalto sobre a política de preços da companhia. Em entrevista ao Estadão, Silva e Luna afirmou que "é muito mais fácil encontrar um culpado do que uma solução" e desejou "sorte" a seu sucessor.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.