O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou o economista Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária do Banco Central, para suceder Roberto Campos Neto na presidência da autarquia.
O anúncio foi feito nesta quarta-feira, 28, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. "Hoje (ontem), ele está encaminhando ao Senado, ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e ao senador Vanderlan Cardoso, presidente da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), o indicado dele para a presidência do Banco Central, que vem a ser o Gabriel Galípolo", disse Haddad a jornalistas.
Galípolo foi presidente do Banco Fator entre 2017 e 2021 e se aproximou da cúpula petista no fim de 2021, ainda antes da pré-campanha para as eleições presidenciais. Ele sempre foi o favorito na bolsa de apostas para o lugar de Campos Neto, que deixará o cargo em dezembro em meio a seguidas críticas de Lula por não reduzir a Selic. Em declarações recentes, Galípolo já indicou preocupação com as previsões do mercado para a inflação e disse que uma alta dos juros "está na mesa" do Copom, que voltará a se reunir em setembro.
Como apurou o Estadão/Broadcast, o presidente da CAE sugeriu a interlocutores do governo que a sabatina seja realizada em 10 de setembro, apesar da pressão do Planalto para antecipar a data.
Na primeira manifestação já como indicado, Galípolo afirmou que seria "breve", "por respeito" ao fato de que seu nome ainda precisa do aval do Senado. "É uma honra, prazer e responsabilidade imensa ser indicado à presidência do BC do Brasil pelo presidente Lula e pelo ministro Fernando Haddad." Em nota, Campos Neto disse que a transição será feita "da maneira mais suave possível".
Será a primeira substituição na presidência do BC sob o sistema de mandatos fixos, iniciado em 2021 com a aprovação da lei de autonomia operacional da autarquia. Antes do BC, Galípolo foi secretário executivo do Ministério da Fazenda.
Governo tenta apressar sabatina de Galípolo, mas senadores resistem
O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Vanderlan Cardoso (PSD-GO), sugeriu a interlocutores do governo que a sabatina do indicado à presidência do Banco Central seja realizada no dia 10 de setembro, apurou o Estadão/Broadcast. A proposta foi feita para que Gabriel Galípolo possa se dedicar, no fim desta semana e ao longo da próxima, a reuniões com os parlamentares.
Havia uma articulação do governo para que a sabatina fosse realizada já na próxima terça-feira, 3. Cardoso, porém, indicou a preferência pela semana seguinte. Cabe ao senador, no cargo de presidente da CAE, marcar a sabatina de Galípolo na comissão. Somente depois dessa etapa é que a indicação pode ser votada no plenário do Senado.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), sob a chefia de Alexandre Padilha, confirmou no fim da tarde que a data da sabatina no Senado deve ocorrer na semana do dia 9 de setembro. Segundo a assessoria, houve uma sinalização nesse sentido do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Em entrevista ontem, Cardoso disse que não haverá "nenhum problema" na sabatina. "Vamos conversar com o líder (do governo no Senado) Jaques Wagner, com o pessoal da Fazenda, com o próprio ministro Fernando Haddad, e, com certeza, não vai ter problema nenhum na sabatina dele (Galípolo)", disse o senador.
Mercado
Feita ontem no meio da tarde, a confirmação da indicação de Galípolo - que sempre apareceu como o nome mais forte para o lugar de Campos Neto - acabou tendo impacto no mercado. O anúncio deu impulso extra tanto às taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) quanto aos negócios na Bolsa de Valores. O Ibovespa, principal referência da Bolsa, fechou em alta recorde de 0,42%, aos 137,3 mil pontos.
Segundo os analistas, o que pesou em ambos os casos foram as declarações recentes dadas por Galípolo, reforçando que o BC precisa buscar o centro da meta da inflação (de 3%) e dizendo que um aumento da Selic está "na mesa" do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC - que volta a se reunir em setembro. "Daqui até a posse é que as declarações dele farão mais preço", disse Felipe Castro, sócio da Matriz Capital.
'Visão ampla'
Para o presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, "Galípolo demonstra ser um homem de visão ampla, preocupado com o bem maior da economia e da Nação". "E são esses os atributos que o levaram a ser indicado para ocupar a cadeira de presidente do Banco Central."
Em nota, o presidente do Itaú, Milton Maluhy, disse que Galípolo vai dar continuidade "ao elevado nível técnico e mundialmente relevante que tem marcado a gestão do BC ao longo dos anos".
Já o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, afirmou que a expectativa é de que não haja grandes mudanças na liderança do BC, mas ele ressaltou que ainda existe certa desconfiança sobre como será o comportamento do BC. "Temos alguns desacertos em termos de decisões, às vezes temos excesso de falas também. O presidente do BC tem de ter um papel mais comedido, e parece que Galípolo quer colocar um tom mais aberto na comunicação, o que pode ser complicado." (COLABORARAM ALTAMIRO SILVA JUNIOR, CRISTIANE BARBIERI e GABRIELA JUCÁ)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.