A Fifa e a FIFPro - organização mundial representativa de jogadores profissionais de futebol - anunciaram neste sábado uma parceria para coordenar e implementar um plano para proteger atletas, equipes, dirigentes e torcedores contra ataques nas redes sociais. A ação coincide com o Dia Internacional das Nações Unidas contra o Discurso de Ódio, lembrado neste dia 18 de junho.
De olho na Copa do Mundo do Catar, as entidades lançarão uma ferramenta dedicada à moderação de comentários nas plataformas digitais durante a realização de torneios masculinos e femininos, a fim de identificar impedir que o comentário seja visto pelo destinatário e seus seguidores. Embora a mensagem ofensiva permaneça visível para a pessoa que originalmente fez o comentário, sua visibilidade e alcance serão significativamente reduzidos.
"Nosso dever é proteger o futebol, e isso começa com os jogadores que trazem tanta alegria e felicidade a todos nós por suas façanhas no campo de jogo", disse o presidente da Fifa, Gianni Infantino. "Infelizmente, há uma tendência em desenvolvimento em que uma porcentagem de postagens em canais de mídia social direcionadas a jogadores, treinadores, árbitros e às próprias equipes não é aceitável, e essa forma de discriminação - como qualquer outra - não tem lugar no futebol."
Um relatório recém-lançado pela Fifa, que usou inteligência artificial para rastrear mais de 400 mil postagens nas redes durante as fases finais da Eurocopa 2020 e da Copa Africana de Nações, identificou que mais de 50% dos jogadores receberam algum tipo de abuso discriminatório, com grande parte dos ataques vindo do seu país natal. Comentários homofóbicos representam 40% dos insultos, enquanto injúrias raciais são 38% das postagens de ódio.
Em março, um jovem britânico de 19 anos, identificado como Justin Lee Price, foi condenado a seis semanas de prisão pela Justiça do Reino Unido por publicar mensagens de cunho racista contra o jogador inglês Marcus Rashford. As publicações ocorreram em 11 de julho de 2021, logo após o atacante desperdiçar a sua cobrança na disputa de pênaltis na final da Eurocopa, em Wembley, vencida pela Itália. Dois meses depois, outro torcedor já havia sido condenado a cumprir pena de prisão por ataques no Facebook contra Jadon Sancho e Bukayo Saka, que também perderam suas penalidades e foram atacados com ofensas raciais.
O estudo também destaca que 90% dos perfis em redes sociais contendo comentários abusivos têm alta probabilidade de identificação, facilitando o trabalho das autoridades responsáveis pela aplicação das medidas cabíveis. Para David Aganzo, presidente da FIFPro, a colaboração com a Fifa reconhece a responsabilidade do futebol em proteger os grupos que fazem parte do esporte, ressaltando o impacto negativo que os ataques têm no desempenho, bem-estar e saúde mental dos atletas.
"O abuso online é uma questão social e, como indústria, não podemos aceitar que essa nova forma de abuso e discriminação afete tantas pessoas, incluindo nossos jogadores. Vários sindicatos de jogadores realizaram um trabalho muito bom sobre este tópico que, relacionado ao nosso recente relatório lançado em conjunto com outros sindicatos de jogadores, nos dá muitas ideias ao abordar este assunto daqui para frente. Pesquisas como esses relatórios são críticas, mas devem levar a ações de prevenção e remediação."
Além da identificação de comentários ofensivos nas redes sociais, as organizações vão desenvolver um suporte educacional e conselhos de saúde mental para todos os jogadores participantes dos torneios Fifa durante 2022 e 2023.