O Rio Tietê voltou a ficar coberto por uma camada de espuma nesta quarta-feira, 4, em Pirapora do Bom Jesus, na zona oeste da Grande São Paulo. A mancha branca mais densa se estendia da barragem da Hidrelétrica de Pirapora até o trecho em que o rio corta a região central da cidade, uma das estâncias turísticas de São Paulo. No domingo, 1, grossas camadas de espuma foram registradas no Tietê em Salto, outra cidade turística, que fica 50 km rio abaixo. As prefeituras reclamam que a espuma incomoda a população e prejudica o turismo.
De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a formação de espuma decorre de resíduos de detergentes despejados no rio sem passar por tratamento adequado. O material que seria degradado biologicamente durante o tratamento acaba se transformando em espuma durante a passagem por barragens e corredeiras. Gerente de um restaurante no centro de Pirapora do Bom Jesus, Geraldo Vieira dos Santos disse que o cheiro da espuma incomoda os clientes. "Já tem bastante espuma, mas vai piorar com a chegada do inverno e com o rio mais baixo", disse.
A Secretaria de Cultura e Turismo de Pirapora do Bom Jesus lamentou a volta da espuma quando a cidade vive uma retomada do turismo religioso, após a pandemia de covid-19. Embora o ponto alto da visitação ao Santuário do Bom Jesus tenha acontecido durante a Semana Santa, quatro romarias devem chegar ainda neste mês de maio, entre elas a tradicional Romaria dos Cavaleiros do Senhor Bom Jesus, de Santo Amaro, que está na 102ª edição.
A Cetesb informou que, até o fim da tarde desta quarta, a agência responsável pela região não tinha sido notificada ou recebido reclamação sobre a espuma. No entanto, a companhia deve programar uma vistoria naquele trecho do Tietê. Já a Empresa Metropolitana de Água e Energia (Emae), concessionária de geração de energia elétrica, disse que não avalia as causas da espuma no rio e que a geração por meio de fonte hidráulica não é considerada atividade poluidora. "A operação das barragens e usinas sobre as quais possui concessão no rio Tietê ocorre estritamente com base nas regras operacionais", disse, em nota.
A Emae informou, no entanto, que para auxiliar no processo de limpeza, a companhia e o Governo do Estado retiraram, somente em 2021, mais de mil toneladas de lixo das grades das usinas Rasgão, Porto Góes (Salto) e Pirapora, localizadas no Rio Tietê. Além disso, a Emae iniciou neste ano a retirada de detritos da barragem de Pirapora. "Até o momento, foram removidas mais de 8 mil toneladas de materiais", disse.
Um relatório divulgado em setembro de 2021 pela Fundação SOS Mata Atlântica mostrou que a mancha de poluição do Rio Tietê avança da capital até a região de Botucatu, a 300 km de distância. Dos 53 pontos de coleta analisados, incluindo afluentes do Tietê, sete apresentaram melhora em relação ao ano anterior. Apesar dessa melhora, mais de um quarto dos pontos de amostragem apresentaram condição ruim ou péssima, indicando um longo caminho a ser percorrido até que a qualidade da água atinja um nível aceitável, segundo o relatório.