Os governos da Eslováquia, Polônia e Hungria anunciaram nos últimos dias a interrupção da importação de grãos da Ucrânia e instalaram uma crise na União Europeia. A decisão dos três países é motivada pelo acúmulo de grãos nos estoques por problemas logísticos, o que causou uma queda no preço dos grãos e protestos de agricultores locais, mas é considerada inaceitável pela UE.
Desde o início da guerra com a Rússia, os grãos ucranianos transitam pelo território da UE para chegar a outros países por causa dos bloqueios dos portos no Mar Negro. Apesar da interrupção, os governos da Eslováquia e da Polônia dizem que vão continuar recebendo grãos que sejam destinados a outras nações. A Hungria não deu afirmações neste sentido.
Segundo o ministro da Agricultura da Eslováquia, Samuel Vlcan, a interrupção entra em vigor na quarta-feira, 19, para proteger o setor agrícola local. Diversos produtos, como cereais, açúcar, frutas, legumes, vinho e mel, deixarão de ser importados. "Hoje, o governo aprovou uma proposta para proibir a importação de produtos agrícolas e alimentícios selecionados da Ucrânia", disse nesta segunda-feira, 17.
O Ministério da Agricultura da Eslováquia também citou a detecção de um pesticida não-autorizado pela UE nos grãos importados da Ucrânia que teria impactos negativos na saúde.
O anúncio da Eslováquia nesta segunda-feira, 17, se soma aos da Hungria e a Polônia feitos no sábado, 15. Além dos três, a Bulgária também considera a decisão, segundo reportagem do jornal britânico The Guardian. Os ministros da Ucrânia iniciaram um diálogo com os governos para encontrar mecanismos para continuar exportando os grãos através destes territórios.
O escoamento dos grãos por estes países é importante para o comércio dos grãos ucranianos, uma economia crucial para o país devastado pela guerra. De acordo com o ministro da Agricultura da Ucrânia, Mikola Solski, os produtos agrícolas enviados para e através da Polônia representam cerca de 10% do total das exportações de alimentos da Ucrânia; a Hungria corresponde por mais 6%.
A União Europeia reagiu nesta segunda-feira ao anúncio dos países, considerando a decisão "inaceitável". "É importante ressaltar que a política comercial é competência exclusiva da UE e que as ações unilaterais não são aceitáveis", declarou Miriam García Ferrer, porta-voz do bloco. "Nestes tempos difíceis, é crucial coordenar e alinhar todas as decisões dentro da UE", acrescentou.
Em paralelo, a Comissão Europeia (o braço Executivo da UE) anunciou que solicitou informação adicional às autoridades competentes para poder avaliar as medidas, incluindo a base legal. No mês passado, a Comissão propôs financiamento de emergência aos agricultores dos Estados-membros da Europa Central para compensar o excesso de grãos ucranianos, mas vários se queixaram de que não é suficiente e os agricultores protestaram massivamente.
Houve sinais nas últimas semanas de que as exportações de alimentos da Ucrânia estavam se tornando um ponto sensível nas relações com a Polônia, um de seus aliados mais importantes em meio à guerra. No mês passado, os primeiros-ministros da Polônia, Hungria, Romênia, Bulgária e Eslováquia pediram à União Europeia que tomasse medidas para conter o fluxo de produtos ucranianos que vinha pressionando os preços para baixo e disseram que a Europa deveria considerar restabelecer as tarifas.
O impasse também acontece no momento em que a Rússia expressa dúvidas sobre a extensão do acordo de grãos do Mar Negro, que as Nações Unidas e a Turquia intermediaram no ano passado e que estava programado para expirar nas próximas semanas. O acordo, que permite que os embarques de grãos em tempo de guerra deixem os portos ucranianos, tem sido crucial para aliviar a escassez global de alimentos e limitar os aumentos de preços.
O acordo do Mar Negro foi renovado em março, mas a ONU não disse quanto tempo duraria. A Rússia, que na época disse que o acordo era válido até 18 de maio, expressou insatisfação por meses por causa das sanções ocidentais que impediram suas próprias exportações de alimentos e fertilizantes. O acordo se tornaria ainda mais vital se a Ucrânia não pudesse enviar grãos e alimentos por rotas terrestres na Europa Oriental, através da Polônia e da Hungria. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)