Política

Entenda o uso do 'gabinete do ódio' pela 'Abin paralela', alvo de nova operação da PF

Estadão Conteúdo
11/07/2024 às 13:42.
Atualizado em 11/07/2024 às 13:48

Uma nova fase da investigação que apura o uso clandestino da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Jair Bolsonaro (PL) cumpre mandados em cinco cidades brasileiras na manhã desta quinta-feira, 11, e está ligada a outra apuração conduzida pela Polícia Federal (PF), que envolve o "gabinete do ódio", organização que difundia ataques contra instituições públicas e opositores que foi revelada pelo Estadão em 2019.

A Operação Última Milha, deflagrada nesta quinta, cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, dois deles contra influenciadores digitais que trabalhavam para o "gabinete do ódio", investigados pela suposta "criação de perfis falsos e a divulgação de informações sabidamente falsas", que teriam sido usadas contra membros dos Três Poderes e jornalistas.

Principal alvo do inquérito que apura as supostas espionagens na Abin, o ex-chefe da Agência, hoje deputado federal e pré-candidato a prefeito no Rio Alexandre Ramagem (PL-RJ), é investigado no caso por supostamente ter autorizado investigações paralelas, sem autorização judicial e sem indícios mínimos de materialidade que justificassem as apurações. Segundo a PF, algumas das apurações tentavam confirmar fake news que circulavam em grupos bolsonaristas.

No bojo da investigação, a PF apura não só a espionagem ilegal de desafetos do governo Bolsonaro, mas também o eventual uso da agência em benefício dos aliados do ex-presidente, com a produção de informações em linha com a "narrativa política" do ex-chefe do Executivo. Uma vez produzidos com o aparato estatal da agência, os conteúdos seriam repassados para o "gabinete do ódio" promover a divulgação.

O filho "02" do ex-presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), já foi alvo em outra fase da operação, a Vigilância Aproximada, sendo apontado como principal nome de um suposto "núcleo político" da espionagem na Abin. O nome dele também apareceu na delação premiada do ex-ajudante de ordens do governo Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, que apontou Carlos como o líder do grupo de assessores do Palácio do Planalto que atuava nas redes sociais disseminando notícias falsas.

O início da investigação que apura os supostos crimes na Abin foi decorrente de dois inquéritos, o das fake news e o das milícias digitais, ambos que levaram a PF ao nome de Carlos. O "gabinete do ódio" veio à tona por ser motivo de uma dissidência na família do ex-presidente. O filho mais velho do ex-chefe do Executivo, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), não concordava com a estratégia de ataques e acreditava que as ações atrapalhavam as articulações do governo.

Os influenciadores presos nesta quinta são Richards Pozzer, artista gráfico indiciado na CPI da Covid por suposta disseminação de desinformação; e Mateus de Carvalho Spósito, ex-assessor da Coordenação-Geral de Conteúdo e Gestão de Canais da Secretaria de Comunicação Institucional, também investigado na CPI da Covid. O Estadão tenta contato com as defesas dos alvos da operação.

A investigação apura supostos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio.

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