Em um depoimento sigiloso ao qual o Estadão teve acesso, João Muniz Leite, de 60 anos, contador que já prestou serviços ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao filho dele, Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, disse ter ganhado R$ 20 milhões em 250 prêmios sorteados em loterias. Só em 2021, teriam sido 55 vezes.
No depoimento à polícia em São Paulo, o contador também admitiu que teve entre seus clientes um dos principais traficantes de drogas do Primeiro Comando da Capital (PCC) durante cinco anos: Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta ou Magrelo.
Muniz afirma, no entanto, que o conhecia apenas pelo nome de Eduardo Camargo de Oliveira. Segundo a polícia, essa era uma identidade falsa usada por Cara Preta para comprar empresas e lavar parte do dinheiro do narcotráfico.
Em junho de 2022, a 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro da Justiça Estadual de São Paulo determinou o bloqueio de R$ 45 milhões em imóveis e ônibus de integrantes do PCC e do contador. Segundo o Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), em diversas oportunidades os valores das apostas feitas por Muniz superaram os dos prêmios. O objetivo seria esquentar o dinheiro ilegal.
Além de prestar serviços de contabilidade para Lula e seu filho, Muniz também era homem de confiança do advogado Roberto Teixeira, o compadre do presidente.
Muniz chegou a ser ouvido como testemunha durante a Operação Lava Jato no processo do caso do triplex do Guarujá - arquivado pela Justiça em 2022 -, pelo então juiz Sérgio Moro. Na ocasião, ele afirmou que fez a declaração de Lula entre os anos de 2011 e 2015, no escritório de Roberto Teixeira, a quem prestou serviços por 14 anos, como contador de suas empresas.
A defesa de Lulinha diz que as investigações sobre Muniz nunca atingiram o filho do presidente. Já o Palácio do Planalto afirmou que Lula não tem laços com o contador, que fez apenas poucas vezes a declaração de imposto de renda do petista.