A inflação retorna à meta mais rápido que o esperado pelo mundo, com notícias positivas do lado da oferta e uma política monetária apertada, avalia o staff do Fundo Monetário Internacional (FMI), em relatório de monitoramento publicado nesta segunda-feira, 26. O documento é divulgado por ocasião da reunião de ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G20, nesta semana em São Paulo.
O staff do FMI diz que, nesse quadro, o índice cheio da inflação desacelerou no segundo semestre de 2023 na maioria dos países do G20.
"Os preços de combustíveis e alimentos também têm abaixado, apesar do conflito em Gaza com Israel e dos ataques no Mar Vermelho - por onde passa mais de 10% do fluxo de comércio global", destaca o relatório.
Em economias avançadas, a desinflação tem sido apoiada pela perda de fôlego nos mercados de trabalho, mesmo que estes sigam mais apertados que antes da pandemia. Efeitos secundários também parecem contidos, diante de crescimento moderado no salário e de expectativas de longo prazo ainda ancoradas, acrescenta.
Segundo o FMI, as pressões de desinflação sobre os preços de bens devem continuar, conforme as pressões sobre as cadeias de produção diminuem mais. No caso da inflação de serviços, que tem se mostrado mais arraigada, há a expectativa de que o quadro nos mercados de trabalho contribua para a desinflação, acrescenta.
O documento lembra que, em janeiro, o FMI estimou que a inflação no G20 fique em 6,5% em 2024. Mesmo com a desaceleração em muitas economias do grupo, o núcleo da inflação ainda deve seguir acima da meta em boa parte de 2024, acrescenta.
O FMI aponta que as expectativas para as taxas de juros em geral se moveram para baixo, conforme o processo de desinflação prossegue. As menores pressões inflacionárias reforçaram expectativas de cortes nos juros nas maiores economias neste ano e no próximo, acrescenta.
O relatório avalia ainda que a demanda por ativos de mercados emergentes e de economias em desenvolvimento tem crescido, conforme os spreads soberanos se movem mais perto para níveis pré-pandemia e os governos têm retornado aos mercados internacionais de dívida, desde o início deste ano.
O FMI considera, contudo, que pressões fiscais testam as estruturas dos países, em quadro de dívida e custos de financiamento elevados. Houve um relaxamento na política fiscal dos países avançados do G20 em 2023, em resposta a uma crise de custo de vida, afirma.
Entre os emergentes do grupo, o quadro fiscal na média teria seguido neutro em 2023, mesmo com relaxamento em alguns deles, China, Brasil e Rússia. O FMI diz que uma coordenação entre as políticas fiscal e monetária será crucial, mesmo que a inflação perca fôlego.
O documento também alerta que há tendência subjacentes que podem deixar vulnerável a choques "a já contida perspectiva de médio prazo". Outras, porém, poderiam representar oportunidades.
O FMI avalia que o ritmo da globalização desacelerou, ante o crescente protecionismo. A fragmentação geoeconômica fica cada vez mais evidente nos fluxos de comércio e capital globais, menciona.
A fragmentação continuada ameaça exacerbar mais os desafios existentes, entre eles a luta por capital, com implicações para a convergência no crescimento e na renda no médio prazo, afirma o relatório.
A inteligência artificial, por sua vez, tem o potencial de impulsionar o crescimento, mas pode também exacerbar desigualdades de renda e disparidades na riqueza, diz o FMI. Além de mencionar o tema, o Fundo sugere cooperação no G20 para ajudar a mitigar os efeitos das mudanças climáticas e facilitar a transição para a energia verde.