A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, destacou nesta quinta-feira que o mundo vive uma "crise sobreposta a outra", com a pandemia da covid-19 e a guerra na Ucrânia. Em evento para marcar o início na próxima semana da Reunião de Primavera do Fundo, ela destacou as "ondas de choque pelo mundo" causadas pela invasão militar da Rússia à Ucrânia e alertou que a guerra pode elevar a desigualdade, enquanto a inflação aparece como "um risco para muitos países pelo mundo". Nesse contexto, destacou o "risco crescente de fragmentação na economia global", em meio às sanções aplicadas contra a Rússia e a tensões entre a China e o Ocidente.
Georgieva adiantou que o FMI, nesse contexto, fará um corte na sua projeção de avanço do Produto Interno Bruto (PIB) global, para 2022 e 2023, mas ela não citou números. "A perspectiva atual é absolutamente incerta", afirmou. Ela notou que a recuperação já perdia fôlego antes do início da guerra, com os impactos da variante Ômicron da covid-19. Além disso, mencionou outros pontos que "pesam na atividade", como a persistência da inflação, o aperto monetário para conter esse quadro nos preços e também os "lockdowns frequentes na China", para conter surtos do vírus.
A diretora-gerente do FMI avaliou que as perspectivas de médio prazo "também receberam um impacto", enquanto a recuperação continua a ser "profundamente desigual" entre ricos e pobres. E destacou a insegurança alimentar como "grande preocupação" e pediu avanços coletivos para combater o problema.
Sobre a inflação, Georgieva disse haver o risco crescente de que as expectativas para os preços "fiquem desancoradas", por isso a importância de que as autoridades respondam ao quadro. Os preços de energia e alimentos e os problemas em cadeias de produção continuam a elevar a inflação, afirmou. "A inflação é uma ameaça à estabilidade e um imposto sobre as pessoas comuns", lembrou, pedindo que os bancos centrais ajustem as políticas "de modo adequado e que comuniquem isso claramente.
Georgieva considerou que a prioridade agora deve ser encerrar a guerra na Ucrânia, acabar com a pandemia e enfrentar a inflação. Além disso, citou no evento a "ameaça existencial da mudança climática", pedindo investimentos para que os países se preparem para potenciais futuros choques nessa frente.
A diretora-gerente do FMI, ao falar sobre a pandemia, disse que é necessário haver um conjunto de instrumentos, como vacinas, além de medidas profiláticas. Nas contas do FMI, o esforço global para isso demandaria US$ 15 bilhões neste ano e outros US$ 10 bilhões anuais a partir de 2023.
Georgieva ainda lembrou que muitos países, no contexto atual, "enfrentam a difícil questão da dívida crescente". Ela disse que é preciso adotar medidas direcionadas para ajudar os mais pobres, dando apoio sem comprometer a sustentabilidade da dívida.
Outro ponto notado pela autoridade no contexto atual foi o avanço nos ativos digitais, nos últimos anos. Segundo ela, isso foi exacerbado pela pandemia. Um aspecto importante, nesse contexto, é avaliar como seria possível integrar essas transações em uma plataforma global, sugeriu.