A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) fechou as portas de seu gabinete para o advogado Cristiano Zanin Martins, que busca apoio de evangélicos para sua indicação a uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). A parlamentar, que é pastora evangélica, declarou que só falará com o candidato, que defendeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Operação Lava Jato, "se for mesmo necessário". A senadora, no entanto, disse que vai orar para que Zanin a surpreenda.
"Pressupondo que o presidente da República tenha a maioria dos votos no Senado, o que possivelmente dará ao indicado a vitória, o que me resta, doravante, é orar para que dr. Zanin nos surpreenda e se torne um juiz justo e imparcial", afirmou Damares, em nota divulgada neste sábado, 10.
Zanin será sabatinado na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) do Senado. Após essa etapa, o nome do advogado passará por votação no plenário da Casa. Como mostrou a Coluna do Estadão, Zanin tem conquistado líderes evangélicos e agora vai buscar a maior bancada do Senado, a do PSD.
A senadora, no entanto, não quer diálogo com o indicado de Lula. "Venho informar aos amigos, aos irmãos, aos correligionários e também aos adversários que nem tentem falar comigo sobre a indicação do dr. Zanin para o STF. Que fique claro desde já que meu voto será 'não' e nada, nem ninguém, me fará mudar! Por favor, não insistam!", afirmou a senadora.
Damares não integra a CCJ do Senado. A parlamentar terá direito a voto no plenário. No Senado, até mesmo integrantes da oposição admitem que a indicação do advogado será aprovada tanto no colegiado quanto no plenário.
A senadora afirmou que "só" falará com o advogado "antes da votação se for mesmo necessário e por meio de solicitação" do seu partido, o Republicanos. Damares declarou ainda que, caso tenha de participar de um encontro, a reunião deverá ter um formato específico, "com a presença dos demais parlamentares e tudo de forma protocolar".
"Acredito que a indicação do dr. Zanin fere o princípio constitucional da impessoalidade e, portanto, não posso aceitá-la", afirmou Damares.
A senadora foi ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Jair Bolsonaro e um dos principais expoentes ideológicos da gestão. A conduta de Damares vai de encontro à postura de líderes evangélicos, que têm se reunido com Zanin.
O advogado já esteve em almoço e café da manhã com representantes dos evangélicos no Congresso. A religiosos, ele tem dito que pautas conservadoras, como aborto e drogas, caras ao segmento religioso, cabem ao Congresso e rejeitará que a Corte "legisle" sobre os temas.