Internacional

Coreia do Sul ameaça com propaganda anti-Pyongyang após Coreia do Norte lançar balões de lixo

Estadão Conteúdo
25/06/2024 às 08:20.
Atualizado em 25/06/2024 às 08:23

A Coreia do Sul ameaçou, nesta terça-feira, 25, reiniciar as transmissões de propaganda anti-Pyongyang na linha de frente, no mais recente episódio de campanhas no estilo da Guerra Fria entre os rivais, depois que a Coreia do Norte retomou seus lançamentos de balões com lixo para o território vizinho.

Na noite de segunda-feira, a Coreia do Norte lançou enormes balões carregados com sacos plásticos de lixo através da fronteira, em sua quinta campanha desse tipo desde o final de maio - uma aparente resposta aos ativistas sul-coreanos que lançaram panfletos políticos por balões.

Em um discurso na terça-feira, marcando o aniversário da Guerra da Coreia, o presidente sul-coreano Yoon Suk-yeol chamou as atividades com balões da Coreia do Norte de "uma provocação desprezível e irracional". Ele disse que a Coreia do Sul manterá uma firme prontidão militar para repelir quaisquer provocações da Coreia do Norte.

Mais tarde, na terça-feira, Yoon embarcou em um porta-aviões americano atracado em um porto no sudeste do país e disse às tropas americanas e sul-coreanas que a aliança entre os dois países é a maior do mundo e pode derrotar qualquer inimigo.

Yoon tornou-se o primeiro presidente sul-coreano em exercício a embarcar em um porta-aviões dos EUA desde 1994.

As Forças Armadas da Coreia do Sul disseram que a Coreia do Norte lançou cerca de 350 balões em sua última campanha, e cerca de 100 deles pousaram em solo sul-coreano, em Seul e áreas próximas. Seul fica a cerca de 50 quilômetros de distância da fronteira.

Os militares disseram que o lixo transportado pelos balões norte-coreanos era, em sua maioria, papéis e que não foram encontrados itens perigosos.

Em seus lançamentos anteriores de balões, a Coreia do Norte lançou estrume, bitucas de cigarro e baterias usadas, além de restos de tecido e papéis. Não foram registrados grandes danos.

Em resposta, a Coreia do Sul recolocou alto-falantes gigantescos em 9 de junho ao longo da fronteira pela primeira vez em seis anos e retomou brevemente as transmissões de propaganda contra a Coreia do Norte.

O porta-voz do Estado-Maior Conjunto, Lee Sung Joon, disse aos repórteres na terça-feira que os militares sul-coreanos estão prontos para ligar novamente os alto-falantes na fronteira.

Uma declaração escrita do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas disse que as autoridades examinariam circunstâncias operacionais estratégicas não especificadas e que a retomada das transmissões dependeria de como a Coreia do Norte agiria.

Táticas da Guerra Fria

Lançamentos de balões e transmissões de alto-falantes estavam entre as campanhas psicológicas nas quais as duas Coreias se especializaram durante a Guerra Fria. Os rivais concordaram em interromper essas atividades nos últimos anos, mas ocasionalmente as retomaram quando as animosidades reacenderam.

A Coreia do Norte é refratária às transmissões da fronteira sul-coreana e às campanhas civis de panfletagem, pois proíbe que a maioria de seus 26 milhões de habitantes tenha acesso oficial a notícias e produtos culturais estrangeiros.

As campanhas de panfletagem sul-coreanas realizadas por ativistas civis, em sua maioria desertores norte-coreanos, incluem panfletos que criticam as violações dos direitos humanos da Coreia do Norte e pendrives contendo novelas de TV, além de música pop sul-coreana. As transmissões anteriores da fronteira sul-coreana incluíam músicas K-pop, previsões do tempo e notícias estrangeiras.

Em uma declaração na sexta-feira, Kim Yo-jong, a poderosa irmã do líder norte-coreano Kim Jong-un, chamou os sul-coreanos de "escória humana" e "desertores nojentos".

As autoridades sul-coreanas afirmam que não restringem os ativistas de distribuírem panfletos para a Coreia do Norte, de acordo com uma decisão do tribunal constitucional de 2023 que derrubou uma lei que criminalizava esse tipo de panfletagem, considerando-a uma violação da liberdade de expressão.

Muitos especialistas dizem que a campanha de balões norte-coreana provavelmente também foi criada para aprofundar o debate na Coreia do Sul sobre a panfletagem civil e desencadear uma divisão interna mais ampla.

Relação da Coreia do Norte e Rússia

As preocupações com a Coreia do Norte se intensificaram em meados de junho, quando o líder norte-coreano, Kim Jong Un, e o presidente russo, Vladimir Putin, assinaram um acordo exigindo que cada país forneça ajuda em caso de ataque e prometeram aumentar outras cooperações. Observadores dizem que o acordo representa a conexão mais forte entre os dois países desde o fim da Guerra Fria.

Os Estados Unidos e seus parceiros acreditam que a Coreia do Norte tem fornecido à Rússia armas convencionais muito necessárias para sua guerra na Ucrânia em troca de assistência militar e econômica.

Em seu discurso sobre a Guerra da Coreia, Yoon descreveu o acordo entre Kim e Putin como "anacrônico". A Coreia do Sul, os EUA e o Japão emitiram uma declaração conjunta na segunda-feira condenando veementemente a expansão da cooperação militar entre a Rússia e a Coreia do Norte.

A chegada do porta-aviões USS Theodore Roosevelt e de seu grupo de ataque pretende lidar com as ameaças nucleares da Coreia do Norte e suas parcerias militares avançadas com a Rússia, disseram autoridades sul-coreanas. Seu destacamento também faz parte de um acordo entre a Coreia do Sul e os EUA em 2023 que visa aumentar a "visibilidade regular" dos recursos estratégicos dos EUA na Península Coreana.

Yoon disse que o porta-aviões dos EUA deve deixar o porto sul-coreano na quarta-feira para um novo exercício trilateral entre Coreia do Sul, EUA e Japão. O novo exercício multidomínio "Freedom Edge" visa aprimorar a resposta combinada dos países em várias áreas de operação, incluindo ar, mar e espaço cibernético.

A Coreia do Norte já reagiu a esses grandes exercícios liderados pelos EUA com testes de mísseis. Na segunda-feira, Kim Kang Il, vice-ministro da Defesa do Norte, chamou o deslocamento do USS Theodore Roosevelt de "opção e ação imprudente dos EUA"./AP

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