O comandante do Exército, general Tomás Paiva, classificou como "fundamental" a previsibilidade orçamentária para o fortalecimento da Base Industrial de Defesa e para aumentar a capacidade de dissuasão em um "mundo multipolar". A declaração ocorre dias depois de comandantes das Forças Armadas terem participado de audiência na Câmara para reclamarem dos cortes de orçamento.
"Estar preparado para o futuro envolve, sobretudo, aprimorar o valor do soldado por meio do treinamento eficaz e da dotação de materiais de emprego militar modernos. Dessa forma, a previsibilidade orçamentária é fundamental para fortalecer a Base Industrial de Defesa e aumentar a capacidade de dissuasão em um mundo multipolar, no qual os conflitos bélicos são uma realidade", disse o general, em discurso durante cerimônia em alusão ao Dia do Exército nesta sexta-feira, 19, no Quartel-General em Brasília.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve no evento. De ministros, participaram o da Defesa, José Múcio, do Gabinete da Segurança Institucional (GSI), Marcos Antonio Amaro dos Santos, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. No evento, autoridades e instituições civis e militares que tenham prestado relevantes serviços ao Exército são condecoradas com a "Ordem do Mérito Militar" e a medalha "Exército Brasileiro".
"A constante evolução tecnológica nos obriga a priorizar a atração, a capacitação e a retenção de recursos humanos, formando os líderes do amanhã por intermédio de um consagrado sistema de ensino, que preserva e difunde princípios éticos, valores e tradições militares", disse Tomás Paiva.
Na quarta-feira, 17, o ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas participaram de audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara. Na sessão, os militares reclamaram dos cortes no Orçamento. Marcos Sampaio Olsen, da Marinha, por exemplo, alertou que o valor alocado para munição e combustível está abaixo do que é necessário ou do mínimo aceitável.
"A Defesa é um importante setor que carece de atenção e investimento", afirmou Múcio na quarta-feira. Já Olsen apontou que houve um índice de perda de 46% na capacidade orçamentária no setor de Defesa nos últimos dez anos. "A Marinha tem adotado uma redução de efetivo de maneira a tornar o orçamento mais eficiente", disse Olsen. Ele argumenta que alguns desses programas afetados poderiam produzir empregos diretos e indiretos.
No discurso desta sexta, o comandante do Exército ressaltou que a Força integra uma "instituição de Estado, alicerçada na hierarquia e na disciplina, que se mantém coesa pelo culto a valores imutáveis". "Estamos sempre prontos para garantir a soberania do País, protegendo nossas fronteiras e guardando nossas riquezas em todos os quadrantes deste imenso território, bem como conduzindo ações subsidiárias que contribuem para o desenvolvimento nacional, que ajudam na preservação ambiental e que aliviam o sofrimento da população em meio a desastres naturais", acrescentou.
Tomás Paiva também reafirmou o "eterno compromisso" da Força Terrestre com a defesa da pátria e "dos mais caros ideais democráticos, mesmo com o sacrifício da própria vida".
Lula também participou do evento em comemoração à data em 2023. A presença, contudo, ocorreu em meio à revelação de um novo episódio envolvendo os ataques golpistas do 8 de Janeiro desencadear uma crise que culminou no pedido de demissão do então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Gonçalves Dias. Na época, o presidente disse não guardar rancor dos militares pelo 8 de janeiro e enfatizou que "o Exército não é mais o Exército de Bolsonaro".
"Hoje foi o Dia do Exército brasileiro e todo mundo sabe o quanto eu andava magoado com os militares deste País por conta de tudo o que aconteceu. Fiquei a noite inteira pensando 'vou ou não vou?'. Tomei a decisão de ir e acho que Deus me ajudou a decidir. Fui para mostrar 'eu não guardo rancor'. Esse Exército não é mais o Exército de Bolsonaro, é o Exército de Caxias, é o Exército com compromisso constitucional", disse o petista em evento após ter participado da celebração no ano passado.
O contexto da participação de Lula na cerimônia em 2024, porém, é um pouco diferente. A relação entre o governo federal e as Forças Armadas está mais amena. O episódio mais recente que representa o novo relacionamento se refere às manifestações do golpe militar de 1964. Sob pressão de apoiadores, o presidente desautorizou ações da gestão federal que relembrassem a data para evitar atritos com as Forças.
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, era um dos principais defensores de que houvesse eventos públicos de rejeição à ditadura militar. A pasta havia programado um ato para 1º de abril, mas, a pedido de Lula, cancelou o evento. Na data, o petista esperava que tanto militares da ativa como seus auxiliares civis deixassem de falar do golpe militar para não acirrar ainda mais os ânimos entre o governo e as Forças Armadas.