O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, voltou a dizer nesta quinta-feira, 29,, em evento da CNN Brasil, em São Paulo, que no momento está em curso um processo de convergência da inflação global. Ele lembrou que o processo inflacionário teve início que foi puxado por demanda maior que a oferta, na esteira da pandemia, acrescidos depois os efeitos da guerra na Ucrânia. Mas, naquele momento, segundo o banqueiro central, entendia-se que havia um "shift" de demanda por bens, que seria mais permanente do que estava precificado.
"Tem um ponto importante aqui, que é: se eu tenho uma mudança na minha demanda de bens, eu também tenho uma mudança na demanda de energia. Porque, para produzir bens, eu consumo muito mais energia do que para produzir serviços. Isso também naquele momento não estava corretamente precificado; a gente passou por um período onde a demanda de energia subia muito, e a oferta, o Capex em energia fóssil, caía muito; e o que era feito em energia verde não era suficiente para compensar", observou.
Ao falar sobre a China, ele disse que a "gente tem que associar alguns fatores".
"Primeiro, a gente olha a taxa de fertilidade da China. É a mais baixa de todos os países importantes do mundo hoje", acrescentou. "Então, com uma taxa de fertilidade baixa, ainda que o governo tenha tentado fazer algumas coisas, não tem tido sucesso ultimamente em aumentar a fertilidade. Aí tem que mudar o modelo de consumo interno para um modelo de exportação. Eles conseguiram fazer isso em 2000 ou 2001, mas era um processo onde vendia bens muito mais simples do que hoje. Hoje está sendo tentado fazer uma segunda onda de crescimento baseado em exportação", disse.
Ainda, de acordo com Campos Neto, há uma queda muito grande do investimento de famílias e imóveis, e toda essa parte de investimento em construção imobiliária, o que o modelo está buscando é tentar compensar isso com a exportação. "Mas exportando o quê? Basicamente hoje a gente olha a exportação crescendo muito, mas é muito com base em coisas ligadas à eletrificação, carros, painéis solares. Coisas de bateria, coisas desse tipo", finalizou.
China
O presidente do BC afirmou que existe um movimento no mundo de imposição de tarifas e barreiras para conter as exportações de produtos da China. Ele citou como exemplo o caso recente do Canadá, que impôs uma taxação de 100% sobre a importação de carros chineses.
"As exportações na China estão baseadas na cadeia da eletrificação, incluindo carros, painéis solares, baterias e outros produtos semelhantes", afirmou o presidente do BC, mencionando que o avanço dos embarques desses produtos nos grandes mercados mundiais afetam setores considerados estratégicos de outros países.
O banqueiro central levantou dúvidas sobre por quanto tempo a China vai continuar mantendo a imposição desse novo modelo econômico baseado em exportações. "Se vamos ter mais tarifas e barreiras, como esse modelo econômico chinês vai funcionar?", indagou, destacando as incertezas no comércio global impulsionadas pelo novo fenômeno.