Alvo de fake news e de uma das maiores polêmicas desta Olimpíada, a boxeadora argelina Imane Khelif assegurou a medalha de bronze neste sábado. Ela derrotou a húngara Anna Luca Hamori por decisão unânime nas quartas de final da categoria até 66kg e avançou à semifinal. Como o boxe não tem disputa de terceiro lugar, ela já assegurou ao menos o bronze.
"É uma questão de dignidade e honra para todas as mulheres. Todo o povo árabe me conhece há anos. Durante anos eu lutei boxe em competições internacionais, eles (a federação internacional) foram desonestos comigo. Mas eu tenho Deus", disse a atleta, em entrevista ao canal beIN Sports, ao fim da luta.
Imane Khelif ganhou os holofotes durante a Olimpíada logo em sua primeira luta devido à forma como acabou o confronto com a italiana Angela Carini. A luta durou apenas 45 segundos porque Carini desistiu após levar um soco no rosto. Ao fim da luta, a italiana revelou um problema anterior no nariz.
Mas, assim que o árbitro decretou a vitória de Imane Khelif, Carini se recusou a cumprimentar a adversária e, ainda no ringue, não segurou as lágrimas. O episódio gerou especulações e fake news nas redes sociais. Muitos associaram o abandono da luta e a recusa da italiana em cumprimentar a adversária à uma polêmica anterior.
Imane Khelif havia sido autorizada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) a participar dos Jogos Olímpicos mesmo após ter sido reprovada em testes de gênero realizados pela controversa Associação Internacional de Boxe (IBA). No Mundial de Boxe do ano passado, realizado na Índia, Imane Khelif e a taiwanesa Lin Yu-ting - que também vai disputar a Olimpíada - foram desclassificadas pela IBA após a realização de testes de DNA. O presidente da entidade, Igor Kremlev, disse que "elas tinham cromossomos XY (que determina o sexo masculino)".
A IBA, contudo, acumula uma série de polêmicas e decisões contestadas nos últimos anos, a ponto de ter sido banida pelo COI em 2023. O atrito entre a associação e o COI quase tirou o boxe do programa olímpico em Paris-2024. A IBA já havia deixado de organizar o torneio de boxe olímpico desde 2019 por falhas recorrentes em integridade e transparência na governança da associação, acusada de manipulação de resultados e corrupção.
Nesta semana, o COI veio a público para condenar a decisão da IBA de impedir Imane Khelif de disputar o Mundial do ano passado. "Esta decisão foi inicialmente tomada unicamente pelo secretário-Geral e CEO da IBA. O Conselho da IBA apenas a ratificou posteriormente e somente depois solicitou que um procedimento a ser seguido em casos semelhantes no futuro fosse estabelecido e refletido nos Regulamentos da IBA. As atas também dizem que a IBA deve 'estabelecer um procedimento claro sobre testes de gênero', explica.
O COI também insiste que ambas boxeadoras já atuaram em competições de alto nível na categoria feminina e que as regras de elegibilidade "não devem ser alteradas durante uma competição em andamento", disse a entidade.