O saldo de recursos estrangeiros na Bolsa de Valores em novembro promete ser o maior deste ano e também o maior para o mês desde 2020, após três meses consecutivos de retiradas. A virada foi induzida pelo alívio com o cenário dos juros nos Estados Unidos, sazonalidade e fatores internos, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Até quinta-feira, 23, a entrada de capital externo no mês já somava R$ 15,96 bilhões. Em 2023, o saldo até agora é de R$ 22,33 bilhões.
"O que explica é o Fed (Federal Reserve, o banco central americano)", resume o diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia, referindo-se à mudança das expectativas para a política monetária do banco central americano. Segundo ele, após a inflação ao consumidor dos EUA ficar estável em outubro ante setembro o mercado "comprou" outra história. "Com a aposta em quando o juro vai cair, o dinheiro buscou mercados com taxas (de juros) maiores, como o Brasil."
O Bank of America (BofA) vê espaço para uma trajetória doméstica positiva daqui para frente, com as taxas dos EUA "finalmente descendo", conforme relatório. Há certo alívio após o pico histórico dos retornos dos Treasuries em outubro. Na ocasião, a perspectiva de uma política monetária restritiva por longo período gerou a saída de quase R$ 2,9 bilhões da B3 - o pior resultado para o mês em três anos.
Saadia, da Nomos, acrescenta que a balança comercial "absurda" é outra explicação para a forte entrada de recursos externos na B3. Até a terceira semana de novembro, o superávit comercial acumulado no ano era de US$ 86,512 bilhões. "Naturalmente isso traz fluxo."
Contas públicas
O economista Pedro Paulo Silveira alerta que a preocupação com as contas públicas permanece, ainda mais após o Ministério do Planejamento elevar sua projeção de déficit primário para R$ 177,4 bilhões em 2023, ante estimativa anterior de R$ 141,4 bilhões. "O mercado precisa digerir a realidade fiscal. Esses números podem deixá-lo mais cauteloso. Mas não mudam a perspectiva de alta do Ibovespa e do fluxo", acredita o economista.
Enquanto monitoram o andamento no Congresso das medidas para aumentar a arrecadação, em esforço para zerar o déficit público, os investidores têm dúvidas em relação ao fato mais recente: o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia. A questão é se o Congresso vai derrubar ou não esse veto.
"Talvez a história não seja encerrada a partir desse veto, pois sabemos que há bastante pressão dos setores envolvidos nessa matéria. Além do mais, houve revisões nas projeções de déficit. A vitória foi manter a meta fiscal; foi um sinal positivo", avalia a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.