O Comitê Olímpico Internacional (COI) fez um anúncio inesperado nesta sexta-feira. Exatamente 110 anos depois de ter cassado duas medalhas de ouro de Jim Thorpe, a entidade restabeleceu as conquistas do americano, que agora é considerado oficialmente o único campeão olímpico das provas do pentatlo e decatlo da Olimpíada de Estocolmo, em 1912. Uma das maiores lendas do atletismo mundial, Thorpe morreu em 1953, aos 65 anos.
A decisão do COI visa corrigir o que muitos do esporte consideram uma das maiores injustiças da história do movimento olímpico. Na Olimpíada disputada na Suécia, no início do século passado, Thorpe faturou o ouro tanto no pentatlo quanto no decatlo, provando que era o atleta mais versátil daquela época.
Celebrado nos Estados Unidos e em todo o mundo, Thorpe acabou sofrendo uma forte decepção meses depois. Suas medalhas foram cassadas porque as autoridades olímpicas da época descobriram que ele havia recebido pagamento para jogar duas competições de beisebol. O dinheiro recebido configurava uma atuação esportiva profissional, contrariando as regras olímpicas, que defendeu o esporte estritamente amador.
A decisão foi considerada o primeiro grande escândalo esportivo da história. Mas não diminuiu o respeito que o atleta conquistou diante dos fãs e da imprensa. Em 1950, décadas depois do escândalo, Thorpe foi eleito pela agência de notícias The Associated Press o maior atleta do mundo na primeira metade do século. Na Suécia, onde o atleta brilhou no atletismo, ele foi condecorado pelo próprio Rei Gustav 5º como o "maior atleta do mundo".
A punição aplicada ao americano, de origem indígena, começou a ser revertida em 1982, 29 anos após a sua morte. Na ocasião, o COI enviou as medalhas de ouro para a família do atleta. Mas não restabeleceu suas marcas e recordes e nem o seu status de único campeão olímpico das duas provas daquela edição dos Jogos.
Há dois anos, uma petição pública passou a defender que o COI reconsiderasse a decisão inicial, de 1912, e definisse o americano como o único campeão daquelas provas nos registros oficiais.
"Nós saudamos o fato de que, graças ao grande engajamento criado pela petição, uma solução foi encontrada. Esta é uma das situações mais excepcionais e únicas, que foi abordada por um gesto extraordinário de Fair Play pelos Comitês Olímpicos nacionais", declarou o presidente do COI, Thomas Bach.