Uma advogada catarinense contou ter sido repreendida por um desembargador durante uma sessão virtual por causa do barulho feito pela filha, uma bebê de colo. Malu Borges Nunes diz que a criança começou a resmungar enquanto era amamentada, o que não foi bem aceito pelo desembargador Elci Simões, presidente da 2ª Câmara Cível do tribunal. Ele disse, segundo ela, que "barulhos externos atrapalham a sessão".
Segundo Malu, o pedido para que falasse primeiro porque precisava amamentar a filha foi negado no início da audiência. Em vídeo publicado nas redes sociais, a advogada explica que o desembargador pediu que a criança fosse colocada em um lugar adequado.
"Não somente isso, ele mencionou que eu deveria 'ver a minha ética'". Ela também pontua que não era a primeira vez que amamentava durante o trabalho e que sempre havia sido respeitada no TJAM e na 2ª Câmara. O desembargador argumentou que os barulhos tiram a concentração.
A advogada diz que o objetivo com a gravação do vídeo é que a situação sirva como lição. "A gente sabe que os cuidados com um bebê demandam muita atenção e que retornar e se manter no mercado de trabalho é uma situação bem complicada. Infelizmente, as mães carregam um peso normalmente bem maior que os pais, e essa é uma reflexão que todos têm de fazer", declara.
As seções da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) dos Estados do Amazonas e de Santa Catarina emitiram notas de solidariedade a Malu. De acordo com o comunicado da OAB-AM, o ocorrido expõe a necessidade de conscientização sobre a maternidade e a vida profissional.
"Deve ser esclarecido que a Dra. Malu Borges Nunes, ao participar de uma sessão remota de julgamento no TJ/AM, dentro de sua residência e ao lado de sua filha, não cometeu qualquer infração disciplinar e nem violou preceito do Código de Ética e Disciplina da OAB", diz o texto.
A nota da OAB-SC caracteriza o caso como um constrangimento e expõe um trecho da fala de Simões durante a audiência: "É uma sessão do Tribunal, não pode ter cachorro latindo e criança chorando. Então, se tiver alguma criança coloque em um lugar adequado para não atrapalhar a realização das nossas sessões".
Na semana passada, um advogado também de Santa Catarina levou o filho pequeno para uma sessão presencial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília. Em uma publicação, ele agradece ao tribunal por ter concedido preferência de julgamento.
Malu diz que a experiência não deve alterar sua forma de atuar: "Vou continuar trabalhando com a minha bebezinha aqui do lado resmungando e amamentando ela, que é um lugar adequado para a idade e a situação dela", afirma.
Procurado, o TJAM não se manifestou até as 17h30.