Esportes

85% dos clubes da Série A têm alto risco de enfrentar impacto climático severo até 2034

Estadão Conteúdo
18/11/2024 às 17:00.
Atualizado em 18/11/2024 às 17:10

Os trágicos acontecimentos de maio no Rio Grande do Sul poderão se repetir no Brasil e no Mundo em breve. Um estudo inédito realizado pela consultoria ERM (Environmental Resources Management) e encomendado pelo Terra FC, coalizão global de clubes, torcedores, grupos comunitários e sociedade civil, conhecida internacionalmente como Earth FC, mostrou que dos 20 times que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro em 2024, 17 estão sob alto risco de ter suas atividades impactadas por inundações, incêndios florestais e calor extremo, nos próximos dez anos.

"As mudanças climáticas são hoje o maior adversário do futebol brasileiro. Por isso, estamos reunindo a comunidade do futebol no Brasil e no mundo para mobilizar milhões de torcedores e mais de 50 clubes, entre o G20 e a COP30. É hora de nos unirmos contra nosso inimigo comum e focarmos, juntos, o que mais importa", disse Eric Levine, diretor do Terra FC. A iniciativa, convocada pela Onda Solidária e a Count Us In, aponta como papel decisivo do esporte o apoio popular às ações contra a mudança climática.

O relatório mostra, por exemplo, que todos os clubes da Série A estão sediados em cidades com risco de queimadas. Em 55% delas a classificação é de alto risco, podendo impactar Atlético-GO, Atlético-MG, Bahia, Corinthians, Cruzeiro, Cuiabá, Fortaleza, Palmeiras, Red Bull Bragantino, São Paulo e Vitória. Nas demais, o risco é considerado médio.

O levantamento também avaliou as ameaças de inundação de rios, inundação urbana e inundação costeira. Salvador, Rio, Porto Alegre e Cuiabá estão em alto risco, sendo que a situação mais alarmante é a dos cariocas, com o alto risco nos três fatores mencionados.

Juntos, esses municípios sediam jogos de 45% dos times da Série A: Bahia, Botafogo, Cuiabá, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Vasco e Vitória. Por fim, 30% das equipes estão em cidades de médio risco: Corinthians, Criciúma, Fortaleza, Palmeiras, Red Bull Bragantino e São Paulo.

"Neste ano, testemunhamos o impacto profundo das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a população do Estado e, ainda, sobre a comunidade esportiva do País. O novo levantamento nos alerta para a possibilidade de que esses eventos ocorram com maior frequência no futuro próximo", afirmou Marcos Botelho, diretor do Terra FC.

As enchentes forçaram o adiamento da sétima e da oitava rodada da Série A do Brasileiro, remanejando a tabela restante da competição (32 rodadas, com 10 jogos em casa), afetando todos os times.

Sem poder atuar em Porto Alegre, Grêmio e Internacional ainda se viram obrigados a mandar seus jogos em outras cidades. Dos municípios com times na elite, Curitiba, Criciúma (SC) e Caxias do Sul (RS) - justamente as três que não possuem alto risco de enfrentar um evento climático - foram as escolhidas. Cariacica (ES), Florianópolis e Chapecó (SC) também receberam partidas oficiais dos times no torneio.

"É preciso ter em mente que todas as equipes jogam dentro e fora de casa. Logo, os riscos projetados pelo estudo podem afetar clubes mesmo que eles estejam sediados em cidades com baixo risco", disse Botelho.

O levantamento da ERM traz ainda um panorama dos impactos do clima sobre o futebol brasileiro neste ano. Mostra, que em 2024, os clubes de elite tiveram um prejuízo superior a R$ 100 milhões devido à ocorrência de eventos climáticos extremos. O relatório ressalta ainda que questões relacionadas ao clima, como temperatura e qualidade do ar, têm interferência direta na saúde pública, impactando igualmente atletas e torcedores.

"Há poucas publicações no mundo sobre esses perigos e um número ainda menor relacionando impactos econômicos com riscos climáticos. A falta de informações e estudos é uma chamada à ação", afirmou Fred Seifert, sócio da ERM.

TORCEDORES

Lançado oficialmente durante a programação do encontro do G20 no Rio, neste mês de novembro, o Terra FC visa engajar milhões de torcedores de futebol no combate às mudanças climáticas. A partir do pontapé inicial no Rio, a iniciativa já começa a mobilizar clubes e fãs em países apaixonados pelo futebol - usando o poder do esporte para virar o jogo até a COP-30, em Belém, em 2025.

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