Estreia neste sábado (2), no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo , a mostra “ruptura e o grupo: abstração e arte concreta, 70 anos”. O trabalho é uma releitura da exposição histórica do grupo Ruptura, em 1952, quando foi lançado um manifesto de mesmo nome, que defendia novos paradigmas artísticos que foram base da arte concreta brasileira desenvolvida na década de 1950. A curadoria é de Heloisa Espada e Yuri Quevedo.
“É uma proposta bem radical na arte brasileira no final dos anos 40 e 50”, aponta a curadora. Ela explica que o movimento defendia a abstração como a linguagem que iria romper com a tradição da arte em representar coisas. “No Brasil, isso era muito diferente do que se fazia, porque só no final dos anos 40, anos 50, começaram a surgir os primeiros artistas expressionistas”, aponta. Isso refletia um momento de reconstrução no pós-guerra, período no qual vanguardistas foram perseguidos por regimes totalitários.
“Para gente é abstrato, mas eles achavam que aquilo era a maneira mais concreta de fazer arte. Era a coisa mais verdadeira possível para a arte, porque ela não estaria sendo sombra de nada, não estaria representando nada, nenhuma ideia. Ela mesmo seria uma ideia pura”, descreve Heloísa. Ela acrescenta que, nesse sentido, muitas obras se chamam “ideia visível”.
Durante a década de 1950, os artistas participantes são Anatol Wladyslaw; Geraldo de Barros; Hermelindo Fiaminghi; Judith Lauand; Kazmer Féjer; Leopold Haar; Lothar Charoux; Luiz Sacilotto; Maurício Nogueira Lima e Waldemar Cordeiro.
“Nessa exposição de 52, a gente vê muita diferença nas linguagens de cada um. Depois, ao longo dos anos 50, essas ideias foram ficando mais fortes e mais claras e eles começam a defender uma ideia de arte concreta”, explica a curadora.
Para Heloísa, a exposição lembra o papel da arte em romper com formas convencionais de ver o mundo. “Hoje, a gente tem vários artistas que estão propondo mudanças radicais, não propriamente da arte, mas da maneira de a gente se relacionar, romper hierarquias sociais, romper ideias de gênero arraigadas. Formalmente, isso não tem nada a ver com a arte concreta, mas tem uma série de artistas que estão propondo uma ruptura com uma maneira de ver o mundo, de como o mundo é organizado, porque do jeito que a gente está vendo o mundo andar, ele está indo em direção ao abismo.” A exposição
O primeiro núcleo da exposição remonta, por meio de documentos e obras, a exibição de 1952. “ A história dessa exposição é muito curiosa, porque ela durou só 12 dias, na verdade, ela foi no fim do ano, em dezembro, e ela teve 12 dias de duração e já causou esse grande estardalhaço na arte”, conta Quevedo. Entre as pinturas expostas, estão Desenvolvimento ótico da espiral de Arquimedes (1952), de Waldemar Cordeiro, e Vibrações verticais (1952), de Luiz Sacilotto.
“A gente percebeu que era quase impossível, apesar de ter fotos, são poucos os registros da montagem da exposição. A gente não conseguiu descobrir exatamente quais são as obras. Então a gente foi fazendo aproximações com obras da mesma época e costurando com o que esses artistas estavam trabalhando e o que seria possível que eles tivessem mostrado”, explica Quevedo sobre o trabalho de curadoria.
A obra de Sacilotto, por exemplo, foi identificada por meio de desenhos em um diário do artista que estava no acervo do Museu de Arte de São Paulo (Masp).
O núcleo seguinte aborda o que os artistas estavam produzindo alguns anos antes de 1952. “É muito interessante porque são desenhos e começa com desenhos um pouco figurativos ainda. São desenhos de vistas dos ateliês, naturezas mortas, mas você já percebe que tem interesse pela abstração como método de olhar para as coisas. Tem ali um procedimento de abstrair, a abstração como uma possibilidade de análise do mundo”, aponta o curador.
A exposição segue com um segmento sobre arte concreta. “Quando a gente vê o trabalho do grupo todo junto, a gente percebe o quanto eles são um grupo”, diz Quevedo.
A parte final traz elementos da sequência do trabalho dos artistas, quando eles começam a refletir sobre o uso de cores e a relação entre elas. “É um núcleo bastante inédito da exposição. É um xeque-mate, porque depois isso vai apontar para a própria dissolução do grupo, por um lado, e depois para o que esses artistas vão fazer em outras áreas, em outras épocas”, revela Quevedo. Retromemória
Também neste sábado (2) estreia a instalação artística Retromemória, desenvolvida pela artista visual e poeta Lenora de Barros. O trabalho, que ocupará a Sala de Vidro do museu, faz um diálogo com a obra Spider (Aranha), concebida por Louise Bourgeois em 1996 e que ficou exposta por cerca de 20 anos no mesmo espaço.
“A instalação expressa o movimento fragmentado da memória a partir da utilização do espelho retrovisor. A artista trabalha o conceito da retrovisão, o olhar para trás para andar para frente, o movimento de ir e vir, formando representações e projetando luzes pela sala”, diz o texto de divulgação da obra.