ZEZA AMARAL

A democracia e os intolerantes

21/04/2013 às 07:57.
Atualizado em 25/04/2022 às 19:30
Colunista Zeza Amaral (Cedoc/RAC)

Colunista Zeza Amaral (Cedoc/RAC)

Virou moda agora (mais uma!) alguém dizer que fulano “não me representa” e se auto-postar segurando um cartaz. E aí pergunto se o manifestante tem ideia do quanto ele vale ideologicamente para ser representado por alguém e descubro que tal moeda só tem uma face: a da intolerância. Começou com a onda fascistoide contra o deputado Marco Feliciano e qualquer crítica virtual que se vê na internet vem com o selo obscurantista “não me representa”.Quem me representa são as leis do país onde vivo; vivesse na China e seriam as leis de lá que me representariam. E como não gosto das leis chinesas, ora, jamais irei viver na China. Assim como não viveria em Cuba, onde 30 mil cubanos foram fuzilados pelos irmãos Castro e centenas de pessoas ainda hoje estão presas por motivos políticos; também não viveria na atual ditadura da Venezuela, que o lulopetismo ajudou a instalar e o dilmismo aprova; e tampouco no Irã, onde a liberdade de expressão não existe, gays são enforcados em guindastes e cristãos são assassinados. Tudo muito simples como um abridor de latas.Já disse e repito que não concordo com as ideias do deputado Marco Feliciano que, tempos atrás, falou um monte de asneiras históricas e religiosas a respeito de africanos e gays e que, agora, declarou que a igreja católica “é morta e fajuta”. Infelizmente, é claro, ele foi eleito por 212 mil eleitores e ocupa democraticamente uma cadeira na Câmara Federal e, também legitimamente, a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, eleito que foi pelas lideranças da Casa — apoiado principalmente pelo PT e PMDB — em um jogo político de complexo entendimento até mesmo por boa parte do brasileiro escolarizado: PT e PMDB abriram mão da Comissão de Direitos Humanos para a bancada dos evangélicos porque estavam interessados em outras Comissões mais rentáveis politicamente e de altíssimo alcance financeiro. Tanto que Marco Feliciano continua presidente da dita Comissão, assim como os petistas quadrilheiros condenados à prisão pelo STF, José Genoíno e João Paulo Cunha, continuam fortemente respaldados na Comissão de Justiça da Câmara, a mais importante de todas, é bom que se diga, porque é nela que se define que deputado pode ou não ser investigado, julgado e cassado. E é nela também que está o mais novo aliado do PT, Paulo Maluf, que se encontra impedido de entrar em 121 países sob risco de ser imediatamente preso pela Interpol. Eles, em suma, representam seus eleitores e financiadores de campanha, jamais o povo brasileiro; e tampouco os 212 mil eleitores do Feliciano, que, é claro, tem todo o direito de se expressar contra o que não julga correto ou a favor de seus estapafúrdios valores. Espero que ele termine por completar a sua presidência e mandato, assim como aguardo que os deputados Genoino e João Paulo Cunha cumpram suas penas como bons condenados que são, na cadeia. E quanto ao deputado Paulo Maluf, bem, que ele envelheça como todos os canalhas que formam o grande bando de funâmbulos da nossa nação, moralmente pobre e abandonado por si mesmo — embora acompanhado de muitos. Democracia é isso aí.

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